quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Um quarto para quatro



14 de Fevereiro


No dia em que me internaram fiquei por algumas horas acomodada num quarto no Núcleo de Partos. O J. tinha ido a casa buscar as minhas coisas e eu só olhava para aquelas paredes e chorava a pensar que não ia ser mesmo fácil aguentar tanto tempo no Hospital e sozinha. 

Depois do J. chegar, uma enfermeira explicou-me que iria subir à Obstetrícia e que aquele quarto era só transitório. Ainda conseguimos que o J. subisse comigo, apesar de passar já muito tempo das horas de visitas, e me ajudasse a guardar as minhas coisas.

Com olhos inchados e pouco ânimo foi como entrei naquele quarto, onde já estavam outras três grávidas de risco. Há pessoas que não gostam de hospitais públicos por terem de partilhar o quarto, mas digo-vos é a melhor coisa que nos pode acontecer. Eu tive a sorte de me cruzar com estas três grávidas, cujas conversas e companhia me ajudaram imenso a aceitar a minha nova condição e a passar os dias.


Após me ter acomodado, a D., a relações públicas do quarto, como lhe chamávamos, deu logo início às apresentações. Ficamos logo a saber os problemas umas das outras e apresentei-lhes a minha Luísa apressada. A partir daquele momento passou a haver um empate no quarto: duas meninas e dois rapazes. Para desanuviar começamos logo a arranjar casamentos para daqui a umas décadas e assim a esquecer as razões pelas quais estávamos ali.

Nos dias que se passaram sei que o puder falar com elas sobre o que me preocupava foi muito bom e foi também a companhia delas que rapidamente me fez aceitar a minha nova condição de grávida de risco.

Ainda uma “rookie” na matéria eram elas que, nos primeiros dias, me iam dizendo as rotinas do Hospital.


Mas cedo começaram as despedidas, que se por um lado nos deixavam felizes, por outro nos lembravam da solidão. Primeiro foi a M., que com o mesmo problema que o meu, mas estando já na casa das 30 e tal semanas e um quadro estável foi mandada para casa gozar uns dias “de férias” antes do bebé dela nascer. Depois seguiu-se a D., que no Dia dos Namorados teve direito a um presente extra: o nascimento da sua bebé. Fiquei eu e a M. sozinhas no quarto, mas por pouco tempo é certo!

Dado que eu ia ali ficar umas longas semanas até já brincávamos com o facto de que eu ia conhecer mesmo muitas grávidas. Eu ia passar a ser uma espécie de peça decorativa daquele quarto.

Tirar algo de bom das experiências negativas é coisa que tento sempre fazer quando a vida me dá um chuto e, neste caso, nunca vou esquecer aquele quarto de quatro.
 
 

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