terça-feira, 31 de março de 2015

O que é isto, corpo?



31 de Março

Eu juro que já tive joelhos. Bons. Flexíveis. Sem lesões. Agora sempre que me ponho em pé parece que eles vão ceder a qualquer momento. Parece que vou cair, não suportam o meu corpo.
Eu sei que é uma consequência normal da gravidez, sobretudo, para quem passa quase a totalidade do dia deitada, mas assusta não ter muita confiança em cada passada que se dá. É por isso que hoje em dia caminho devagarinho, um passo de cada vez. Cair não é uma opção.

Apesar de ter tido alta na sexta-feira, ontem tive de regressar ao Hospital para uma ecografia. O ritual já está ensaiado. O J. deixa-me à entrada, onde eu espero, vai estacionar e quando chega é que subimos os dois ao Núcleo de Partos. Enquanto ele estacionava aproveitei para levantar dinheiro na ATM da entrada. Por azar ao retirar o cartão deixei-o cair no chão – sim, agarrar coisas também é função que as grávidas vão perdendo -, baixei-me para o apanhar, mas o problema foi levantar-me. Não conseguia. Juro que se não estivesse rodeada por velhinhos com joelhos iguais ou piores que os meus lhes tinha pedido ajuda. Com muito esforço lá consegui levantar-me. O problema é que fico logo exausta, como se tivesse acabado de fazer 200 agachamentos.

Já durante a ecografia e aproveitando a presença da médica perguntei se era normal doer-me tanto as ancas. Durante o dia estou mais de barriga para cima, mas de noite estou sempre de lado e acordo a meio da noite cheia de dores nas ancas. Pareço mesmo uma velhinha. A médica sossegou-me, dizendo que era normal, porque eu na minha cabeça já estava a fazer filmes a pensar que seria a minha bacia já a alargar parar entrar em trabalho de parto.
Agora pensem na figurinha que faço ao caminhar, arrastando os pés e mexendo pouco as ancas para não doer…já para não falar de que o J. tem de fazer de minha grua constantemente.

É certo que tomo ferro, magnésio e multi-vitaminas para diminuir estes problemas, mas a verdade é que não sinto melhorias. Hoje acordei tão cansada, mas tão cansada, como se estivesse de férias e tivesse andado o dia todo a caminhar por uns trilhos no Gerês ou a descobrir uma cidade nova.

Talvez seja da Primavera ou destes últimos dias terem sido fisicamente mais exigentes por ter tido a alta e ontem ter voltado a sair de casa. Só sei que tenho pena de não ser uma daquelas grávidas cheias de genica, que fazem tudo e mais alguma coisa, mesmo com um barrigão. Mas tenho que me conformar e entregar à minha sorte.
Hoje vou-me dar à preguiça e ficar aqui sossegadinha no sofá, onde já dormitei umas belas horas esta manhã.

Corpo, entretanto, se quiseres colaborar e dar-me mais força estás à vontade.
Delícias da minha gravidez…

sábado, 28 de março de 2015

Já vejo o Hospital pela janela



28 de Março

O-M-G! Tive alta! Já estamos em casa e mais cedo do que previa.
(Primo P. agora é a parte em que em vez de ires matar a tua mãe – minha madrinha – do coração a dizer-lhe que já tive a Luísa continuas a ler o texto até ao fim, ok? Estes cachopos…esquecem-se que já fui jornalista e ficam alarmados só com os títulos e as entradas dos textos.)
Não sei se alguma das médicas leu o meu post ou se foram as estrelas que se alinharam, mas a verdade é que na sexta-feira deram-me alta. Assim, duas semanas mais cedo do que estava previsto pude fazer as malas e vir até casa. E as saudades que eu tinha!! Está um bocado desarrumada e tal (eu perdoo-te J.), mas é a minha casa e sabe muito bem estar aqui.

Ontem antes de me darem a “liberdade condicional” fui fazer uma ecografia para ver como estava a Luísa. Resumindo, os fluídos estão bons, cresce a bom ritmo, engorda como uma pequenina lontra (ela e eu!). Apesar da alta, vou ter de permanecer de repouso por mais três semanas. A médica quer que eu faça mais um esforço até às 35 em vez das 34 inicialmente faladas. Mas pronto, depois de 24 dias de internamento, acrescentando mais sete dias da primeira estadia no Hospital e duas semanas em casa o que são mais três semanas? Peanuts! Na verdade sei que não vão ser peanuts, mas deixem-me aproveitar estes primeiros dias de euforia. Vou voltar a ter babysitter e a ser bombardeada pelas visitas com o “não faças nada” ou “não te levantes” e com o meu belo feito a euforia logo, logo vai passar.

Ficou também acordado com a Dr.ª A. que só voltava a entrar naquele Hospital lá para as 37 semanas, o que a mim me parece um acordo muito vantajoso. Eu vou fazer por cumpri-lo, mas vamos a ver se a Luísa colabora. De qualquer das formas, mais ou menos, de 15 em 15 dias vou ter de ir ao Hospital para verem como evolui a texuguinha e assim também vamos tendo uma melhor noção se a coisa se vai aguentar mais semanas ou nem por isso.

Em sentido oposto à minha calma e alegria está o pânico do J. Sempre que tenho alta ele fica em desespero, capaz de pedir ao Hospital que me mantenha ali. Juro! Eu compreendo que para este pai de primeira viagem não seja fácil lidar com estas coisas e sentir-se impotente face a alguns acontecimentos em que os pais acabam por ser meros espetadores. Desta vez quase que me chateei quando ele não fez uma cara feliz por eu ter alta. Lá deve ter visto o meu sobrolho franzido e perguntou quais eram então os sinais de alarme que tínhamos de ter atenção. Lá lhe recapitulei tudo (perda de líquido amniótico, sangramento, contrações frequentes com dores, etc.) e acho que ele ficou mais calmo.

Apesar de todos os cuidados ainda a ter, estou muito feliz por já estar a ver o Hospital da minha janela de casa em vez de estar eu a espreitar por aquelas janelas.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Era uma vez uma espécie de SPA



26 de Março

No reino das grávidas de risco, em jeito de brincadeira, costumávamos dizer que como não tínhamos dinheiro para ir repousar para um SPA verdadeiro tínhamos vindo para esta espécie de SPA, o Hospital.
O dia-a-dia resumia-se a comer, dormir, fazer traçados, falar com as médicas e as enfermeiras e receber visitas. Só faltavam mesmo as massagens dadas por rapazes altos e espadaúdos (brincadeirinha amor!) e os serviços de estética, muito precisos!
As noites eram tranquilas, os tratamentos dentro dos possíveis aceitáveis e a comida não sendo gourmet não era má de todo na maioria dos dias. Eu pelo menos sou bom garfo e quase tudo “marcha”.
Volta e meia eramos sobressaltadas pelo alarme de alguma pulseira de um bebé que teria saído, mas com o tempo até a esse som nos fomos habituando. Quando tocava dizíamos que lá ia um fugitivo, porque apesar de tudo todas nos sentíamos um pouco prisioneiras desta espécie de SPA, só não tínhamos pulseira eletrónica na perna como os bebés.

Mas esta semana tudo mudou. Não sei se é do tempo, da lua ou de um alinhar de várias condicionantes, mas deixamos de estar numa espécie de SPA.
Nós, grávidas de risco, não estamos misturadas com as mães e os bebés. À noite fechamos a nossa porta do quarto e ficamos sossegadas no nosso reino. Mas esta semana, minhas amigas!! O que é isto!? Nasceu um bebé que chora tanto, mas tanto, mas tando, dia e noite que todas nós já estávamos com pena dele e da mãe.
O problema é que os decibéis do seu choro conseguiam inundar todas as enfermarias e mesmo a nossa, que é a última, deixou de ser um reino de paz. Passamos a dormir às prestações, pois ao facto de termos de nos levantar várias vezes para ir à casa de banho ainda acordávamos com o berreiro deste pequeno ser. Ele não tem culpa, mas às custas disto está a traumatizar-nos… E quando conseguia acordar os bebés todos é que era cá uma sinfonia, qual concerto de Heavy Metal for babies…

Depois começaram as alvoradas como na tropa. Normalmente a enfermeira do turno da noite vem por volta das 07h ou 07h15 medir-nos a temperatura e depois deixa-nos a dormir até às 08h para tomarmos o pequeno-almoço e começarmos os traçados já a cargo da nova equipa.
Pois esta semana, as enfermeiras da noite acharam “giro” acordar-nos antes das 07h da manhã!!! Ok que de manhã se começa o dia, mas não havia necessidade de ser TÃO cedo. Para além disso, uma delas passou a noite a entrar no nosso quarto e a acender as luzes, como quem diz quero-lá-saber-que-estejam-a-dormir. Obrigadinha!!!

Em seguida foi a comida. Uns dias esqueceram-se do nosso lanche da manhã, noutro dia faltou o jantar de uma colega minha, trocaram os menus e quem pediu carne comeu peixe e vice-versa, mandaram-me um sumo com uma mosquinha a boiar…

E dos rapazes altos e espadaúdos para nos fazerem massagens nunca ninguém os viu.

E, pronto, foi assim que acabaram com a nossa ilusão de estarmos numa espécie de SPA.