segunda-feira, 28 de setembro de 2015

“Seria um erro alguém tentar encerrar a maternidade”



Como prometido hoje publico aqui no blog a entrevista que fiz em Julho à Directora do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital S. Sebastião, Dr.ª Teresa Paula Teles. 
Esta entrevista saiu hoje no semanário Terras da Feira e fica aqui a oportunidade de a lerem, caso não agarrem um dos exemplares em papel. 



“Seria um erro alguém tentar encerrar a maternidade”

O serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital S. Sebastião recebeu, recentemente, o grau máximo de Excelência Clínica atribuído pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS). Teresa Paula Teles, directora do serviço, falou ao “Terras da Feira” sobre a equipa que dirige e afasta o cenário de encerramento outrora anunciado. A responsável lamenta ainda que a má imagem do serviço de Urgência prejudique o trabalho realizado nas restantes áreas do hospital.

Ana Luísa Tavares

Foi atribuída, recentemente, a classificação de Excelência Clínica, no seu nível máximo, ao serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital S. Sebastião. A que critérios o serviço correspondeu alcançar este título?
Os indicadores prendem-se, sobretudo, com o tempo de internamento, com profilaxias antibióticas, com profilaxia de tromboembolismo ou com o grau de infecção após o internamento. Estes indicadores são revistos duas vezes por ano, por colegas do serviço que os lançam numa plataforma da Entidade Reguladora para a Saúde. Efectivamente, este tipo de certificação [pela ERS] já foi iniciada há alguns anos e o hospital tem sido muito bem classificado, nomeadamente, no serviço de Obstetrícia e Ginecologia.

Esta classificação é importante para mostrar que estes serviços merecem continuar no S. Sebastião?
Claro que esta classificação é muito boa para todos os profissionais que trabalham aqui e é também a prova de que nós estamos aqui, funcionamos muitíssimo bem e que, provavelmente, seria um erro alguém tentar encerrar a maternidade. De qualquer forma, esse encerramento não diz respeito à Ginecologia. Penso que esses boatos se prendem com a portaria que saiu, em Abril de 2014, em que preconizava o encerramento de cerca de 20 maternidades a nível nacional. Medida que considero inviável, mesmo com uma baixa taxa nacional de natalidade. De qualquer forma, o serviço de Ginecologia continuaria a funcionar na totalidade com consulta, com internamento e cirurgia, e o de Obstetrícia também iria funcionar em termos de consulta, ecografia e vigilância das grávidas. Julgo que só realmente os partos não seriam realizados nesta instituição. Depois dessa portaria, que saiu em Abril de 2014, não se voltou a falar no assunto. Estou confiante que, com este nível de excelência clínica e com os bons resultados que temos apresentado nos últimos anos, não será uma maternidade a encerrar. Admito que foi um cenário que suscitou muita apreensão na população abrangida por este hospital, pois, decorrido um ano, ainda somos sistematicamente questionados sobre este problema. Até quando temos reuniões com a Unidade Coordenadora Funcional, os enfermeiros e os médicos ainda nos perguntam como está esta situação. Mas, a verdade, é que nunca mais se voltou a falar sobre esta Portaria.

É um assunto, contudo, que não foi fechado. A qualquer momento pode ser revisto?
Depois das próximas legislativas tudo poderá mudar, dependendo de quem ficar no Governo, pois sabemos que isto também tem a ver com medidas políticas. 

Ao nível dos nascimentos, há algum número que o serviço tenha de cumprir para assegurar a manutenção do Núcleo de Partos?
Não. Nunca ficou definido um número. O que estava definido era o número de elementos por equipa de Urgência em função do número de partos. Ou seja, se houver maior número de partos, teremos de ter mais elementos no serviço. Se tivermos um menor número de partos, teremos de ter menos elementos no serviço. Aqui o número de partos nunca esteve em causa, ao contrário do que aconteceu com Oliveira de Azeméis. Agora, o número de partos a nível nacional é realmente preocupante. Ainda recentemente tive uma reunião na ARSNorte e fomos confrontados com gráficos que demonstram o decréscimo do número de partos nos últimos anos. É, de facto, assustador. Neste Hospital, no ano 2000, foram realizados três mil partos e, no ano passado, registaram-se pouco mais de 1.600. O número de nascimentos decresceu significativamente. É uma realidade assustadora em termos sociais e que torna premente a implementação rápida de medidas de apoio à natalidade. Para além da crise que se gerou, as nossas mulheres que trabalham não têm qualquer apoio em termos de natalidade e não têm qualquer segurança em termos profissionais. Portanto, não arriscam ter filhos para depois ficarem sem emprego.

Mas fala-se que, desde o ano passado até agora, houve um incremento de nascimentos.
Sim, no ano passado já houve um aumento de quase 200 partos a nível nacional. Não é muito. Os dados deste ano já apontam para mais um pequeno aumento, mas é ainda insuficiente para fazer face à queda acentuada verificada em anos anteriores.

Teresa Paula Teles, directora do serviço de Obstetrícia e Ginecologia

Como se motiva uma equipa ao ponto do seu trabalho resultar numa classificação de Excelência Clínica numa altura de tanto descontentamento entre os profissionais de saúde?
Penso que o segredo está, acima de tudo, em gostar-se muito daquilo que se faz. Quando assim é, surgem sempre novas ideias, novas metas. Por exemplo, estamos a equacionar a hipótese de ter musicoterapia durante o trabalho de parto e adquirirmos bolas de pilates e as suas bases para as grávidas. Estamos sempre a pensar como é que havemos de fazer mais e melhor. Estamos também, em conjunto com o serviço de Anestesiologia, a tentar conseguir que as nossas grávidas, mesmo com a epidural, consigam deambular, enquanto não entram na sala de partos. Fizemos questão de lançar um site (http://ginecologiaobstetriciachedv.pt.vu/) cheio de informação para grávidas e utentes de Ginecologia e fazemos também reuniões sobre os medos e mitos na gravidez. As ideias são muitas e quando uma está concretizada passamos à seguinte. É uma dinâmica que contagia. Por isso, apesar dos cortes salariais, do muito trabalho, acho que a equipa está motivada e cheia de ideias. Por outro lado, também temos apostado na criação de protocolos para enfermeiros e médicos para que, dessa forma, se minimizem os riscos e os erros. Há protocolos para as enfermeiras do internamento, protocolos para o Núcleo de Partos e para o próprio trabalho de parto. Os profissionais seguem uma checklist para que nada falhe.

Considera que as notícias sobre as Urgências do S. Sebastião acabam por afectar a imagem que os utentes possam ter dos outros serviços do hospital?
Claramente. Mas é um mau juízo, porque o serviço de Urgência, até agora, era assegurado por equipas de empresas que contratualizam médicos, nem sempre com a melhor qualidade, mas que, acima de tudo, não estavam ligados a este espírito de serviço. Eram médicos que vinham fazer o serviço e iam embora. Isso reflectiu-se no trabalho e criou algum descontentamento e alguma instabilidade junto da população. Acho, por isso, que hoje a má imagem que o hospital possa ter advém muito da porta de entrada que é o serviço de Urgência, porque os outros serviços funcionam com excelente qualidade. Mas este Conselho de Administração (CdA) está a fazer um esforço enorme, desde que tomou posse, para reabilitar e alterar o funcionamento do serviço de Urgência e julgo que já se começam a ver resultados.

Está prevista alguma acção de promoção do serviço de Obstetrícia até para fazer face ao aumento do número de casais que, agora, optam por fazer o nascimento dos filhos no sector privado?
Temos a nossa página (http://ginecologiaobstetriciachedv.pt.vu/) que está online há cerca de três meses e meio. O site contém informação sobre todas as actividades do serviço, divulga as datas da reunião dos medos e mitos na gravidez, que são as reuniões que nós facultamos às grávidas no primeiro trimestre ou no princípio da gravidez, aos sábados de manhã das 10h00 às 12h30, orientadas por um obstetra. Divulgamos também as sessões de esclarecimento de preparação para o parto, para todas as grávidas depois das 35 semanas. Encontram-se lá esclarecimentos sobre cuidados na gravidez, o que trazer para a maternidade, sinais de alerta, as normas, os folhetos que vamos desenvolvendo, questões de Ginecologia. São tudo informações que muitas vezes as grávidas e as senhoras vão procurar à internet ou nos colocam nas consultas e ali têm tudo à disposição. Pensamos que é uma página muito completa e que está em constante actualização. Depois temos a tal reunião dos Medos e Mitos na Gravidez em que as senhoras colocam as suas dúvidas. As reuniões acontecem ao sábado de manhã para não prejudicar a actividade laboral das grávidas e têm sido muito bem aceites e os maridos também vêm e participam. Estamos também a desenvolver o Guia da Grávida, em conjunto com o Centro de Saúde da Feira. Com este guia, pretendemos que todas as informações transmitidas pelos centros de saúde que pertencem ao CHEDV sejam as mesmas. Estamos ainda a trabalhar no sentido de angariar dinheiro para imprimir em livro e distribuí-lo por todas as grávidas. Também está prevista uma linha telefónica de acesso directo, tanto ao sector de diagnóstico pré-natal para falarem com uma enfermeira - quando as grávidas tenham dúvidas relativamente aos rastreios - como o acesso ao internamento para as mães que tenham tido já alta, estejam em casa, e tenham alguma dúvida relativamente ao bebé. Aguardamos agora a autorização do CdA para avançar. Acredito que estas medidas criarão uma maior proximidade com as mães.

Este ano, a título excepcional, têm tido já alguns casos de cirurgia fetal que obriga a enviarem a grávida para ser operada em Barcelona.
No Hospital S. Sebastião a cirurgia fetal ocorre em grávidas com gémeos com placenta única, em que se detecta a síndrome da transfusão feto-fetal, onde um bebé cresce mais do que o outro, o que não é bom. Isto exige muita perícia ecográfica para fazermos o diagnóstico da síndrome da transfusão feto-fetal. Estas grávidas são vigiadas quinzenalmente entre o sector de ecografia e a consulta de gémeos para fazermos este diagnóstico precocemente e atempadamente. Quando isso acontece temos de tratar estas transfusões entre um feto e outro através de cirurgia fetal a laser. Não se faz a nível nacional, não há nenhum centro em Portugal que o faça. Há centros em Espanha, França e Inglaterra. Nos últimos anos, desde que o hospital abriu, tivemos meia dúzia de casos, mas este ano já tivemos quatro ou cinco casos. Actualmente, estamos a enviar as nossas grávidas para o Hospital Clinic, em Barcelona, que funciona muito bem e com resultados excelentes e honra temos de fazer ao nosso CdA que com a maior celeridade, de um dia para o outro, marca o voo e efectua o seu pagamento, assim como assegura a estadia da grávida em Barcelona. São custos elevadíssimos numa altura de aperto, mas o CdA deste hospital tem facilitado ao máximo, o que muito nos agrada. Temos um CdA muito motivado e preocupado por estas situações e, este ano, já foi preciso dar atenção a quatro casos. Num dos casos, os gémeos já nasceram e nos outros as gravidezes estão a decorrer e está tudo bem com os bebés. Para nós é um motivo de orgulho, porque estamos lado a lado com os grandes hospitais do país no que diz respeito ao diagnóstico pré-natal e de cuidados de Obstetrícia e Ginecologia de excelência.

Conseguem, portanto, nesta matéria, equiparar-se aos grandes hospitais de Portugal?
Sim, tanto em Obstetrícia como em Neonatologia. Embora esse não seja o meu serviço, a nossa Neonatologia conseguiu bebés vivos, sem sequelas, que nasceram com 23 semanas e seis dias, 24 semanas. Bebés que agora estão muito bem e que nasceram com pouco mais de 600 gramas. O nosso serviço de Neonatologia, desde sempre, recebeu bebés desde as 24 semanas e os resultados têm sido sempre muitíssimo bons, o que também é uma mais-valia para o serviço de Obstetrícia deste hospital. Podermos contar com uma equipa de Neonatologia muito bem treinada e experiente. É uma segurança para nós e para as grávidas.




Detalhe
Os nascimentos estão a aumentar, mas ainda não em número suficiente para colmatar os números reduzidos dos anos anteriores. O cenário é preocupante e Teresa Paula Teles não o nega. A prova de como a pirâmide social está a inverter é a realidade dos hospitais. Agora, é o Serviço de Medicina Interna que mais dá que falar em termos de internamentos. “A redução do número de camas de Ginecologia resultou no aumento do número de camas para Medicina Interna” – explica a médica. Para se adaptar à realidade, o hospital acabou por reequacionar o número de camas e, efectivamente, constatou-se que a Ginecologia era um serviço que tinha a ocupação mais reduzida, graças às cirurgias de ambulatório. Um número importante de camas foi redistribuído pelo serviço de Medicina Interna, onde a maioria dos utentes internados são idosos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Cinco meses com direito a Hospital



21 de Setembro

Hoje a Luísa faz cinco meses. Cinco meses que a minha Apressada já tem! O tempo passa mesmo muito rápido e têm sido tão bons estes meses de mimo com a minha bebé. No começo nem tudo foram rosas, mas o que lá vai, lá vai.

Mas para começarmos bem o dia para hoje tínhamos marcado um exame no Hospital. Como a Luísa esteve internada na Neo e Pediatria 22 dias e devido também à infeção que teve, para além do habitual rastreio auditivo que se faz a todos os bebés poucos dias depois de nascerem, já sabíamos que teríamos de voltar ao Hospital para um exame chamado potencial evocados auditivos.

Não vou negar que ia nervosa. Primeiro porque ainda que esperando o melhor, uma mãe vai para estes exames sempre a temer o pior. Depois porque o exame exigia uma série de requisitos para puder ser realizado e eu estava com medo que não conseguíssemos, nomeadamente adormecer a Luísa. Claro que também a isto não ajudou nada encontrar uma senhora na sala de espera – daquelas que mete conversa com toda a gente e em cinco minutos é capaz de contar a vida toda – que disse que a filha dela também teve de fazer este exame e que teve de ir ao Porto fazê-lo com anestesia, porque nunca a conseguia adormecer e ela começava a arrancar os elétrodos. Obrigadinha, minha senhora! Não basta uma pessoa não saber bem para o que vai e ainda tem de levar com as más experiências dos outros.

Sim, porque isto de chamarem a um exame potencial evocados auditivos é muito bonito, mas para quem não percebe nada de otorrinolaringologia é a mesma coisa que não nos dizerem nada.
Quando entramos no gabinete, a médica explicou que este era mais um exame auditivo e começou a colar os elétrodos na testa, bochechas e atrás das orelhas da minha Apressada, que estava a achar estranhos aqueles acessórios, mas a portar-se lindamente.
O bonito foi conseguir adormece-la. É certo que a levantamos antes da hora habitual – o exame era às 08h30 – já para potenciar mais soninho, mas a minha Apressada que anda sempre de antenas no ar a observar tudo não queria dormir. Queria era olhar para a luz do computador, para as médicas, observar o consultório.

Dei-lhe o peito e ainda um bocado de biberão e ela foi ficando mais relaxada. Teve então de entrar o pai em ação para a adormecer. Primeiro sentada, depois de pé e no final enfiamo-la no ovo. Não sei precisar, mas diria que estivemos uns 20 ou 30 minutos para a adormecer. Enquanto isso ouvíamos um bebé a chorar no corredor que não estava a ajudar em nada à nossa causa.

Com a Luísa a dormir lá conseguimos iniciar o exame (ufa! Afastei de vez a história da senhora da sala de espera), que ainda demora uns belos minutos e além dos elétrodos ainda lhe foram colocados uns mini auscultadores nos ouvidos.
Resultado: tudo bem com a nossa Apressada. Os ouvidinhos funcionam bem e já podemos riscar isto da nossa lista de preocupações.

O pior foi tirar toda aquela parafernália de fios… Os elétrodos são “colados” à pele e para os tirar foi um custo. Nunca tínhamos visto a nossa Luísa chorar assim, a não ser quando tinham de lhe mudar o cateter quando esteve internada (e eu nem quero lembrar-me desses choros).

Chorou tanto, mas tanto, com lágrimas gordas a caírem em cascata e nós a sofrer por ela. Teve logo direito a muito mimo e quando vinha a sair do consultório já se vinha a rir. Mesmo assim, hoje vai ser dia de mimo para a minha menina esquecer os chatos dos elétrodos, até porque hoje é o dia dela e merece toda a atenção.

Cinco mesinhos and counting.