domingo, 3 de setembro de 2017

As quase não-férias e o santo You Tube



03 de Setembro 2017



Há quem diga que são os terrible two. Há quem diga que é só uma criança ativa. O que eu sei é que todos os dias a Luísa me dá uma coça 20 vezes pior do que ter de ir três horas seguidas ao ginásio (Que não vou. Não se iludam. Não sou uma fit mom. Sou uma lazy mom, que prefere ficar no sofá a ver séries ou a ler, durante o pouco tempo que me deixam respirar).



E ir de férias com uma criança com dois anos de idade, não são bem férias, é mais só sair do sítio onde habitualmente se mora e mudar os sítios onde habitualmente temos direito a espetáculo, entenda-se: birras.



Logo na primeira noite fomos jantar fora. Para melhorar o restaurante só tinha uma cadeira de bebé, que já estava ocupada. Ficou numa cadeira dos grandes, como já diz. Após comer a sopa começou o terror. Não parava dois segundos quieta e podem achar que é exagero, mas não é. Mediante a nossa tentativa para a controlar, começou a fase do espernear e escapar-se dos nossos braços como se fosse a enguia mais escorregadia do mundo. Estava tão irrequieta e CHATA que nem nos deixou chegar à sobremesa. Já estávamos saturados e naquela fase em que já começamos a levar com os olhares dos restantes comensais a pedirem-nos telepaticamente que fossemos embora.



Olhamos um para o outro e foi quase um “Vamos embora!” em uníssono. O J. agarrou na Luísa, que ainda teve tempo de furar os tímpanos a todo o restaurante, e eu fui pagar ao balcão. A senhora até me perguntou se estava tudo bem. A comida estava, a minha filha é que não, tinha encarnado o demo naquela noite…



À saída o J. disse: “Se isto continuar assim vamos embora para casa, que isto não são férias.”

Férias. Longo e saudoso suspiro. Férias tínhamos antes da Luísa nascer, quando íamos os dois fazer percursos pedestres no Gerês, conseguíamos ir acampar, ir tomar uma bebida relaxadamente a uma esplanada ou torrar um bocado ao sol. Há três anos que a minha cor varia entre o branco pérola e o branco lixívia.



As férias agora são todas cheias de horários. É a hora de pôr o protetor solar, a hora do lanche da manhã e da tarde, as trezentas horas de a ir pôr a fazer xixi, a hora da sesta e a da sopa, a hora em que finalmente a deitamos e em que cada um de nós finalmente tem um bocado de descanso. Normalmente nessa altura literalmente desmaiamos cada um para seu lado.



Mas voltando ao episódio do restaurante só para terem uma noção, acabamos por não desistir das “férias” e passado uma semana quando voltamos ao mesmo sítio a senhora ainda se lembrava de nós. Levamos com um “Olha a menina que quase nem deixou os pais comer…”. Lindo Luísa, lindo.



Felizmente esta segunda vez correu melhor. E perguntam vocês, mas como?? Drogaram a miúda? Levaram-na a dormir? Amarraram-na a uma cadeira? Não, minhas amigas e amigos, nada disso. Invocamos o santo You Tube…e abrimos a caixa de Pandora.

Mas será que neste mundo não há um único pecadinho que um pai ou mãe não possam fazer sem ter de levar com avultadas consequências depois?!?



Depois do primeiro dia de férias e vendo que o segundo ia pelo mesmo caminho, fartinhos de tentar todos os malabarismos possíveis, durante um almoço ligamos o You Tube. Foi como se a paz mundial tivesse descido à Terra. Durante uma hora pudemos comer calmamente, saborear a refeição e ainda – pasmem-se almas! – chegar à sobremesa.



O pior foi depois. Em todos os sítios em que parávamos queria ver o You Tube. Era cafés, restaurantes, em cima de um penedo, a visitar um castelo, no meio de uma aldeia, na piscina… E foi assim que aquilo que aparentemente parecia a nossa salvação raptou a nossa filha e a tornou num ser vidrado num ecrã e que passava o dia todo a pedir “as cores”, que é como ela chama ao You Tube, porque começou por ver vídeos a ensinar as cores.



“Yellow color, yellow color, where are you? Here I am, here I am. How do you do?” Conhecem esta música? Eu e o J. também. Temos pesadelos com ela. Muitos.

E a quantidade de vídeos para crianças a fazer publicidade aos M&Ms, ovos Kinder ou Chupa-chups? Vídeos com vegetais vi zero. Mas isso será tema de um próximo post.



A modo que as “férias” (não resisto a estas aspas) lá foram passando às custas da alienação da Luísa da vida em seu redor e agora andamos na fase do desmame.

Em casa tem momentos de verdadeira ressaca em que chora, grita, pede, implora pelas “cores”. Para o corte não ser tão agreste para já deixamo-la ver uma vez por dia e o restante do tempo inventamos desculpas, tipo o tablet ou o telemóvel estão sem bateria, “as cores” só dão depois da sopa, etc.



A minha esperança – e a Luísa já com três anos – é que as férias do próximo ano sejam menos extenuantes. E estão aí vocês desse lado, mães e pais com mais experiência, provavelmente a rir-se de mim, mas deixem-me ser inocente e acreditar que isto vai melhorar, ok?



Bom regresso ao trabalho!