quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Contagem para o fim de semana



29 de Outubro

O tempo é dos bens mais preciosos que temos. Passamos a vida a correr e em troca ele também passa a correr. Na semana passada a minha Apressada fez seis meses e a mim ainda me parece que foi ontem que ela nasceu.

Estas últimas semanas cá em casa têm sido de adaptação devido ao meu regresso ao trabalho. Na primeira semana confesso que não me custou muito, como a Luísa fica uns dias na avó e outros na tia G. não senti aquela ansiedade de a ter de deixar numa creche. Por outro lado, depois de tantos meses centrada nela, eu queria voltar à minha rotina de antigamente e recuperar uma bocado a minha vida.

Só que os dias foram passando e mesmo com redução de horário de trabalho sabe-me a pouco as horas que passamos juntas. Tenho saudades dos nossos dias juntinhas. Ao longo do dia penso nela muitas vezes e no que estará a fazer. A vida de um bebé é uma vida de rotinas e depois de chegarmos a casa o sistema é sempre o mesmo: dar de mamar, brincar um bocadinho, dar banho, fazer o jantar, voltar a dar de mamar e hora da caminha.

Como a Luísa pelas 21h já está a cair de sono, entre a chegada a casa e a hora de dormir pouco mais de três horas temos para estarmos juntas. Lá está o tempo, esse tramado, que passa sempre a correr. É por isso que estou sempre mortinha que chegue o fim de semana, porque no fim de semana há tempo para a Luísa vir um bocadinho para a nossa cama e brincar e não há a pressa para ir para o trabalho. Ao fim de semana posso dar-lhe a sopa e a papa e brincar com ela o tempo que me apetecer. No fim de semana há sempre tempo para lanchinhos com as tias ou visitas aos bisavós.

O fim de semana tornou-se o nosso tempo e é já depois de amanhã. A mãe mal pode esperar, minha Apressada.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Lá se foi o encanto da sopa




13 de Outubro

Ser mãe de primeira viagem é ser um pouco (ou muito!) ansiosa. No mundo em que passamos a viver tudo é novidade e às vezes queremos forçar a chegada de novas etapas. Foi assim com a chegada da sopa cá em casa.

Esperar. Eu devia ter esperado a consulta com a Pediatra para iniciar a sopa com a Luísa. Mas não, quis vê-la a comer a primeira sopa, quis ser eu a dar-lhe a primeira sopa e decidi seguir a receita da nossa enfermeira do Centro de Saúde e começar a dar sopa à minha Apressada.

As coisas até podiam ter corrido bem, que isto com bebés uma pessoa nunca sabe, mas não correram. Depois da sopa de batata e abóbora, seguiu-se a de batata e cenoura. Olha eu que adoro cenoura de todas as formas e feitios ia lá imaginar que a minha rapariga ia reagir tão mal à cenoura…

Primeiro começou a fazer cocó imensas vezes por dia, quase não havia uma fralda que eu tirasse que não tivesse uma descarga de cocó. Mas o pior para mim foi vê-la ficar com o rabinho horrivelmente vermelho. Nunca ela tinha ficado com o rabinho assim tão assado, quase carne viva. Coitadinha da minha Apressada que não tinha culpa nenhuma e estava ali a sofrer por causa das pressas da mãe.

Na consulta com a Pediatra contei-lhe a minha antecipação e ela torceu o nariz como quem diz “devias ter esperado”. Explicou-me que começa logo por uma sopa muito mais completa do que a aconselham no Centro de Saúde e que raramente os seus pequenos pacientes fazem reacção à sopa. Arroz, abóbora, cenoura, cebola, meio alho, couve branca, salsa, peito de frango e um fio de azeite em cru passou ser a receita cá em casa, com novas introduções a cada quatro dias.

A minha Apressada ainda demorou dois dias a estabilizar as imensas fraldas de cocó após esta nova sopa. O rabinho começou a melhorar devagarinho e na segunda vez que fiz a sopa retirei por completo a cenoura e parece-me que a assadura começou mesmo a desaparecer à velocidade da luz.

Durante estes dias em que a Luísa andou vermelhinha deixamos as toalhitas de lado e a nossa salvação foram umas compressas não tecido embebidas em água da Uriage, por sugestão da minha amiga J. Valeu-nos também muito Halibut e creme da Lutsine. Um autêntico milagre e o rabinho está agora quase bom.

Esta iniciação à sopa não foi pacífica e durante alguns dias lá se foi o encanto da chegada de mais esta etapa na vida da Luísa, mas agora está tudo a entrar na linha e espero estar a criar uma criança que adore sopa.




domingo, 4 de outubro de 2015

A separação



04 de Outubro

Minha Luísa Apressada,

Amanhã deixamos de ser uma só e passamos a ser duas pessoas diferentes. Foram 236 dias dedicados só a ti. Primeiro a guardar-te bem quentinha para que não nascesses ainda no Inverno, depois a lutar contigo dia a dia para que vencesses os bichos maus e saísses do Hospital o quanto antes, e nos últimos meses a consolar-me de dar mimo e ver-te crescer.

Prometo que não vou chorar, quando te entregar à tia G., até porque ela e a avó D. vão tomar conta de ti e não podias estar em melhores mãos. Mas sei que uma parte de mim vai ficar triste, muito triste, porque provavelmente posso não ter a sorte de te ver a sentar direitinha pela primeira vez ou ouvir a palrar “ma-ma-ma”, ver-te a gatinhar ou a cuspir a sopa.

No que a ti diz respeito sou egoísta, sou. Queria que todas as tuas primeiras conquistas fossem sempre presenciadas por mim e pelo papá. Mas não pode ser assim e está na hora de ganhares umas mini-asinhas. Está na hora de te habituares a novas caras que não só a minha. Está na hora de te descolar da minha pele e deixar-te respirar por ti própria.

Eu também preciso de respirar por mim própria e recuperar um bocadinho a minha vida. 236 dias dedicados só a ti é muito tempo e uma mãe habitua-se facilmente a este namoro com um filho. O mundo fica em suspenso e pouco nos importa o resto. Está na hora de voltar ao trabalho, pensar noutras coisas que não temas de puericultura, ver outras caras, ter outros horários.

E quem sabe aprendas amanhã o que é ter saudades e quando eu te for buscar me dês o sorriso mais bonito do mundo. Eu vou ficar a esperar que assim seja e assim não será tão dolorosa esta nossa separação.