quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A arte de ser invisível



31 de Agosto



Ninguém gosta de se sentir invisível, mas desde que comecei a andar mais a pé empurrando o carrinho da Luísa pela cidade que isso é uma constante. E custa-me a crer que um carrinho de bebé atrelado a uma pessoa sejam invisíveis. Se estivéssemos a falar de algo do tamanho de um ouriço-cacheiro até entenderia…



A questão é que sempre que paro numa passadeira, rara é a vez em que algum auto ou motociclista me dê a prioridade, que por lei me está garantida. Pura e simplesmente não existo, porque toda a pressa do mundo justifica sempre nunca se parar numa passadeira. Às vezes fico tentada a abanar os braços no ar ou coisa que o pareça para me tornar notável.



Outra coisa que me irrita também seriamente é que nunca aguardem que eu atravesse e suba para o passeio oposto. Arrancam sempre ainda estou eu a chegar ao outro passeio e como alguns passeios embora desnivelados têm sempre uma pequena diferença para a estrada, obrigam-me a levantar o carrinho, o que demora o seu tempo - cinco segundos no máximo! -, mas aparentemente para quem anda na estrada é uma eternidade.



Meus queridos, tanta pressa não vos faz bem à alma. Abrandem, parem nas passadeiras, esperem que os peões estejam na margem oposta em segurança e só depois arranquem, ok?



Ah, e outra coisa, numa altura em que se fala tanto em fazer exercício e no bem estar, que tal estacionarem nos sítios devidos, em vez de ocuparem os passeios impossibilitando a passagem a peões, carrinhos de bebés e cadeiras de rodas, e irem a pé ao banco, ao pão ou ao café? Fica a dica.



Quando isto me acontece e me obrigam a desviar para a estrada com o carrinho de bebé, só peço que aquela pessoa seja abençoada com um par de gémeos que é para um dia sentirem na pele a dobrar aquilo que uma mãe com apenas um bebé num carrinho sente sempre que quer ir passear pela cidade. É que ninguém gosta que façam de conta que nós não existimos!