21 de Fevereiro
Bastam segundos para que um acidente aconteça e no que diz respeito às
crianças o perigo espreita em todo o lado. Mesmo de onde menos imaginamos.
A Luísa não simpatiza com sapatos. Normalmente é uma luta quase diária
entre nós as duas. Eu ponho, ela tira, eu ponho, ela tira. Até que uma de nós
se cansa e a outra ganha.
Ontem gostava de ter perdido.
Calcei-a com umas sapatilhas tipo All Star, que por terem cordões, são
as que mais dificilmente consegue tirar. Metemo-la no carro e fomos os três
todos contentes aproveitar o sol à beira-mar.
Eu e o J. a falar descansados durante a viagem – sim, porque ter
filhos é muito lindo, mas às vezes damos por nós dias, semanas sem conseguir
ter uma conversa de jeito – e a Luísa atrás. Ouvimo-la tossir, mas nada de
mais.
“Trouxeste comida no carro? Cheira-me a comida.”, perguntou-me o J. “Trouxe
o iogurte, mas isso não cheira. A mim não me cheira a nada, mas também estou
com o nariz entupido”. E foi isto quase cinco minutos antes de chegarmos ao
destino.
Quando a vamos tirar do carro dou por ela toda vomitada de sopa, muito
quieta e de olhos arregalados. Pensei logo que lhe tinha dado sopa a mais e que
por isso ela teria ficado cheia. Comecei a limpá-la. Estava tão suja, que
tivemos que lhe trocar a roupa toda no carro.
Quando lhe estou a limpar o pescoço vejo – atenção que vou praguejar –
a MERDA de um pictograma todo dobrado e percebi o filme.
A meio da viagem a Luísa deve ter conseguido tirar uma das sapatilhas,
que dentro tinha colado no forro um pictograma com a composição das sapatilhas,
pô-lo na boca, engoliu-o, mas entalou-se e isso – Graças a Deus meu amiguinho!!
– fez com que ela vomitasse mandando aquela porcaria fora e evitando assim que
uma desgraça acontecesse, enquanto eu e o J. falavamos tranquilamente ali, a
menos de um metro de distância.
Fiquei tão danada comigo mesma, quando percebi o cenário, que já nem a
conseguia vestir em condições. Naquele momento uma pessoa só pensa em castigar-se,
dar umas bofetadas a si mesma.
Bem sei que os bebés têm reflexos contra o engasgamento e que passa
pelo vómito e ainda bem que ela o conseguiu fazer, mas na cabeça de uma mãe
fica sempre a pergunta “E se não o conseguisse fazer daquela vez?”. De
arrepiar. À noite, na cama, ainda me lembrava daquele momento. Já passou, mas
ficou de lição: ter extra cuidado com etiquetas ou autocolantes que possam
estar na roupa ou calçado. Numa fase em que a Luísa põe tudo à boca qualquer
coisa serve para nos pregar um grande susto.
Já agora deixo aqui um desafio a quem faz calçado ou roupa para
crianças: e se fossem colar pictogramas na testa? Raio de ideia! Nem sei se é
legal ter pictogramas transparentes em artigos de bebé. Pendurem antes uma etiqueta
com a composição do artigo, que vai dar ao mesmo e é mais seguro.
Nenhuma mãe quer ter o perigo mesmo juntinho à sua criança.
Quanto a mim? Olhos bem abertos e nem vou contar isto à Pediatra senão
ela vai-me contar, mais uma vez, das vezes que já salvou crianças por se terem
entalado. Cruzes credo! Bate três vezes na madeira! Isola!