sábado, 14 de fevereiro de 2015

Luísa, uma bebé apressada



11 de Fevereiro de 2015


-“Já não vai viajar. Vai ser internada hoje”, disse-me a médica num tom sério.
Quando com 25 semanas de gravidez se ouve isto, numa consulta de rotina antes de uma viagem de trabalho, quando anteriormente estava tudo bem, o mundo para à nossa volta. O meu parou. Fiquei apática, sem reação, só a ouvir a médica. Ainda bem que o J. tinha ido à consulta comigo, porque não queria acreditar.
Na minha cabeça aquilo não fazia sentido. O que se passou? O que correu mal? A médica não conseguia indicar uma razão pois seriam precisos exames, mas a prova é que o meu cólo do útero em quatro semanas tinha passado de 4 a 1,3cm. A minha Luísa estava já de cabeça para baixo e a fazer pressão para sair.

A minha médica ligou de imediato para o meu Hospital a avisar da minha chegada e condição e nem tempo me deu para respirar. A ordem era ir!

Às 25 semanas eu nem a mala da maternidade tinha feita! E como saí da consulta entrei no Hospital, diretamente para o Núcleo de Partos. Parto. Só pensar nesta palavra que eu julgava ainda tão longe já me assustava. Sempre pensei que, como as coisas corriam bem, iria aguentar a gravidez até ao fim e só lá para o final de Maio é que teria a Luísa nos braços.

Pensar que podia tê-la ao meu lado já (muito provavelmente numa incubadora) assustou-me. Primeiro porque seria uma bebé muito prematura e depois porque eu não estava preparada para esse choque. Não estava mesmo, não vou mentir. O meu coração ficou pequenino, angustiado, sem sangue. E o do pai da Luísa, sempre ao meu lado, também. Pai também sofre.

No Núcleo depois de fazer os traçados, análises e novas ecografias o veredicto foi comunicado: tal como a minha médica tinha dito ficaria internada…até ao final da gravidez. Mas, esperem, eu estou só de 25 semanas!? Vou ficar aqui, um lugar que não conheço, pelo menos 7 a 9 semanas? Eu não queria acreditar. Enquanto esperava para subir para a Obstetrícia chorei por todos os meus males e temi pela minha sanidade mental. Uma pessoa que se levanta todos os dias para trabalhar, que rejeitava sempre a possibilidade de uma baixa lá para os 7 ou 8 meses e de repente dizem-nos que o repouso absoluto é a solução. Fiquei sem chão. O susto, o saber que a bebé podia nascer muito prematura e o ficar longe dos meus deitou-me por terra. Assim que o J. regressou de casa, onde tinha ido buscar-me algumas coisas depois de terem anunciado que eu ia ficar no Hospital, subi à Obstetrícia de olhos vermelhos e inchados e com o peso do mundo sobre mim.

Nunca nas semanas de gravidez que “gozei em liberdade” me passou pela cabeça este cenário. Mas foi esse panorama que tive de enfrentar às 25 semanas e 4 dias.
 

Escusado será dizer que apesar de toda a atenção das enfermeiras nada substitui os nossos maridos e familiares, logo não preguei olho a noite toda. Só queria que a manhã chegasse, porque talvez acordasse do pesadelo…
A noite foi uma tortura, sobretudo porque nem ordem para me levantar para ir à casa de banho tinha e tive de chamar por duas vezes a auxiliar de serviço para que me trouxesse a aparadeira. Experiência horrível, sobretudo quando estamos frágeis e a outra pessoa que nos deve auxiliar tem cara de poucos amigos e nós nem temos noção se os movimentos que estamos a fazer são aceitáveis ou não para a nossa nova condição.


Durante essas horas percorri mentalmente lugares que me fizeram feliz na esperança de conseguir paz e calma. “Andei” pelas ruas de Santiago de Compostela, “toquei” as pedras das casas do centro histórico, “subi” à Catedral e “visitei” cada espaço daquela que durante 5 meses foi a minha universidade, a USC, e onde fui tão feliz. “Andei” depois pelo Porto percorrendo os sítios onde no domingo passado tinha estado, fui ainda em busca de momentos felizes com a família e amigos, tudo para me ajudar a passar a noite mais longa da minha vida.

Quando chegou a manhã não acordei do pesadelo e na minha cabeça só perguntava: como é que me aconteceu isto? Luísa, não estás bem dentro da mãe?
 



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