segunda-feira, 9 de março de 2015

O coração numa ervilha



09 de Março

A Luísa ainda não nasceu, mas acho que posso dizer que já me sinto mãe. Não gosto do termo pré-mamã, porque nesse caso também teríamos pré-filhos e ninguém usa essa designação ridícula.
E como mãe o primeiro ensinamento que tiro é que a vida passou a ser uma montanha russa: ora temos tempos de acalmia ora entramos num looping que nos deixa de cabeça para o ar e o coração na boca.
Ontem foi um dia desses, de entrar no looping e ficar com o coração apertadinho, do tamanho de uma ervilha. 


Era domingo, o dia por excelência das visitas e estava-me a custar bastante estar aqui de pernas para o ar, vendo o sol lá fora. O dia, como era habitual, começava com os habituais traçados (que agora detesto fazer). Penei ali mais de uma hora agarrada à máquina, sempre a debitar registos para médicos e enfermeiras verem. Estive tanto tempo que o papel dos registos quase dava para fazer um tapete, como costumamos dizer aqui na gíria das grávidas.
De tarde voltou o mesmo fado. Novo traçado, novamente mais de uma hora ali a medir as contrações e o batimento e movimentos da Luísa. As visitas iam e vinham e eu ali, já a escorrer água de tanto tempo que estava agarrada à máquina.

Finalmente fui libertada do meu suplício. Estava a minha mãe a subir para me visitar, quando chegou aqui a enfermeira a dizer-me que eu ia lá abaixo ao Núcleo de Partos fazer uma ecografia, para verificar umas irregularidades com os traçados. Gelei. Que irregularidades??


Perante o choque o meu corpo desce aos mínimos a preparar-se para dar os máximos, quando a situação o exigir. Fiquei calada, perdi a fome (o lanche já tinha chegado) e a minha concentração passou toda para a Luísa e a minha descida ao terceiro piso.
Liguei à minha mãe para aguardar e não subir até ao meu piso que eu iria fazer uma ecografia. Avó é mãe ao quadrado e sofre a dobrar. Ficamos as duas penduradas dos lados opostos da linha, em suspenso, mas sem mostrar fraqueza uma à outra.

Eu acho que se me visse ao espelho durante o percurso do quarto ao Núcleo devia ter a cara mais assustada do mundo. Na minha cabeça só pensava o que poderia estar mal, que eu não sentia.
É claro que chegar ao Núcleo e ver lá a minha médica assistente deu-me mais segurança. Agradeço imenso à Dr.ª S. pelos cuidados e precauções que tem comigo e todas as suas parturientes.




Subir à cama para fazer a ecografia é uma ansiedade. Lá estiveram as médicas a analisar a Luísa a ver se estava bem e ainda lhes consegui perguntar quanto pesava a rapariga. Já tem cerca de 1,400kg.
Felizmente, tudo estava bem. Nos dois traçados que tinha feito as médicas tinham verificado umas alterações nos batimentos cardíacos da bebé e mandaram-me chamar ao Núcleo para tirar todas as dúvidas. Explicaram-me que aqueles intervalos no batimento da Luísa deveriam ter sido a máquina que por momentos não lhe captou o coração, deixando aqueles espaços em branco.

Desta vez não posso culpar a Luísa pelo meu susto. Vou assumir que foram as máquinas.
De qualquer das formas valeu o susto e já percebi que a partir de agora a vida será assim, uma montanha russa! Benvinda à maternidade, Ana Luísa! Estavas à espera de uma mar de rosas?

2 comentários:

  1. A melhor definição de maternidade que até hoje li é que o nosso coração passa a bater fora de nós, assim que damos à luz. Mas já durante a gravidez - acho mesmo que logo depois daquelas duas riscas no teste - o nosso coração deixa de ser nosso e passa a ser daquele bocadinho de nós que, por mais que nos custe a apre(en)der, não conseguimos proteger de tudo.
    Depois vais aprender também que basta um segundo, o olhar, o cheiro, o respirar do nosso bebé para fazer com que tudo valha a pena!
    Beijos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ser mãe é isso mesmo gelar quando está calor, suar quando está frio... mas tu és forte depois disto pelo qual estás a passar só demonstras que és forte e aguenta coração(como diz a canção)... beijos

      Eliminar