sábado, 2 de maio de 2015

São só mais dez dias



02 de Maio

São só mais dez dias para te ter em casa. É nisso a que a mãe e o pai se têm de agarrar.
Quando na quarta-feira a médica da Neonatologia veio ao final da manhã comunicar à mãe que ias ter alta daquele serviço e que passarias à Pediatria, fiquei numa espécie de semi-choque. Primeiro porque na Neo sabia que estavas bem vigiada, depois porque já sabia que na Pediatria as condições não são as melhores para os pais lá ficarem a acompanharem o bebé durante a noite, coisa que na Neo não era possível.

Ficamos então assim as duas abandonadas à nossa sorte na Pediatria.

Lá em baixo toda a gente sabia o teu nome, aqui grande parte das enfermeiras apenas entram no berçário para te pesar e trocar os antibióticos. Acho que ainda nenhuma te chamou pelo nome e como a mãe te veste muitas vezes de verde, porque é um bocado alérgica ao excesso de cor de rosa nas bebés meninas, algumas até pensam que és um rapaz e dizem “ele”.

Viemos de um serviço cheio de calor humano para um lugar onde os cuidados são de massas. O serviço é grande, tem muitas camas, muitos corredores, crianças a chorarem e outras a correrem e à mãe parece que as enfermeiras não têm tempo para “namorarem” com os seus pacientes mais pequeninos e dessa forma dar algum conforto às mães. Ficamos aqui horas sozinhas a ouvir os barulhos à nossa volta.

Passamos os dias aqui fechadas. Nem uma janela para o exterior temos e nem sei se faz sol, chuva, frio ou calor.

Depois, como parece que nem sempre ficas satisfeita com o leite da mãe, volta e meia temos de te dar um biberão de suplemento para termos a certeza que ficas bem alimentada. Perdas de peso não são admitidas nesta fase, certo gorducha? O pior é a mãe às vezes ter de tocar três e quatro vezes à campainha até conseguir que alguma auxiliar venha com o teu leitinho. Também já apanhamos uma auxiliar que até se antecipava às necessidades da mãe, estava sempre atenta, mas foi a única. Se calhar estávamos mal habituadas, porque na Obstetrícia e Neo as auxiliares eram TOP.

Às vezes a mãe precisa de falar com uma enfermeira ou encontrar uma auxiliar e percorre os corredores à procura delas e ninguém aparece. Juro que às vezes não sei onde se metem e como penso sempre que podem estar a cuidar de outros meninos, tão pouco me ponho a bater às portas todas porque acho indelicado.

Mas o pior para a mãe são as noites. Como mamas de três em três horas e demoras muito até ficares satisfeita, porque adormeces sempre à mama, a mãe só consegue dormir cerca de uma hora entre as tuas refeições. De manhã estou com a tolice do sono e com as costas num oito. Acho inadmissível que num berçário, onde as mães tenham de dormir por longas temporadas para conseguirem amamentar os bebés durante a noite o melhor que nos dão são uns cadeirões, onde ficamos todas tortas. Daqui vou direta para a Ortopedia.
Além disso, se quisermos ir à casa de banho temos de vos deixar no berçário, muitas vezes sozinhos, porque nem um WC o quarto tem.
Esta noite o pai teve de ficar contigo, em vez da mãe, porque eu precisei de ir a casa recarregar baterias. Deixei o máximo possível de leite extraído para biberões e o pai foi-te alimentando durante a noite.

Eu sei que ficaste bem e adoraste, porque o pai passa a vida contigo ao cólo e tu adoras esse miminho tão bom. Às vezes não sei se te ponho a ti a babete ou ao teu pai.

Há pouco estava a mãe a preparar-te para o banho quando a médica entrou e tirou o sorriso dos lábios da mãe. Inicialmente na Neo as médicas tinham informado que farias um tratamento de 14 dias e estando tudo bem irias para casa. A mãe ia assim riscando os dias no calendário para te ter em casa. Se as coisas assim se mantivessem estarias em casa na próxima terça-feira. Mas hoje os planos mudaram.

Hoje a médica informou a mãe que visto que nas tuas análises os agentes que criaram o “bicho” mau não se acusaram, a equipa da Neo e a da Pediatria reuniram-se e decidiram que em vez dos 14 dias de tratamento vais fazer o tratamento mais prolongado, o dia 21 dias.

Foi um balde de água fria. É claro que a mãe quer que fiques boa e que façam tudo por tudo para te limpar destes “bicharocos”, mas pensar que vou ter de aguentar mais dez dias aqui está a custar muito. Já estou tão saturada de Hospital, de andar a saltar de serviço em serviço, de aprender novas regras a cada mudança. Só queria ir para casa na terça-feira como até há umas horas acreditava que assim seria. Só te queria levar para casa, para veres os passarinhos na parede do teu quarto, para dormires na alcofa juntinha a nós, para estarmos na calma do nosso lar.

Tudo isso vai ter de ser mais uma vez adiado. Toca a carregar no botão do reset e mentalizar-me de que terei de te ter aqui quase até meio de Maio.

São só mais dez dias.

2 comentários:

  1. Força, Aninha!!! Envio-te "montones" de energia e otimismo para que melhores dias venham para os 3! Merecias já estar com a tua pequenina no sossego e quentinho da vossa casa - já passaram por muito...
    Beijinhos carregados de miminhos para a mamã e para a pequenina Luisa e para o papá (já agora)!

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  2. Olá Ana Luísa ! Tenho acompanhado as tuas publicações e já me emocionei, já me ri e já me revi em algumas situações. Fui mãe à quase um ano e a minha filhota também passou pela pediatria e senti a diferença que existe entre esse piso e a obstetrícia, não saí do quarto um único dia ! Vais ver que daqui a nada esses 'bicharocos' vão já já embora e vais puder desfrutar ao máximo da tua menina ! Um beijinho grande e tudo do melhor para vocês

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