terça-feira, 19 de maio de 2015

A vida de três em três horas



19 de Maio

Os meus dias já não têm 24 horas, têm contagens de três em três horas. Se a Luísa mamar às 15h quer dizer que a seguir vai acordar por volta das 18h e mais contas de três em três por aí fora.

Nestes primeiros dias, depois da alta, temo-nos esforçado por integrar plenamente a nossa terceira inquilina na nossa casa, mas a tarefa não tem sido fácil. Pelo menos para mim. As rotinas agora são bem diferentes e é ela que manda nesta casa. O que se faz, quando se come, quando se toma banho, quando se dorme, quando de escreve para o blog ou os textos ficam a meio, tudo ela determina. Tão pequenina e já tão mandona. Sai à mãe.

De três em três horas o ritual é o seguinte: bebé acorda; muda-se a fralda; dá-se de mamar; segue o suplemente de leite; põe-se a menina ao alto para arrotar e depois adormecer; e finalmente volta à alcofa ou fica ao peito do pai, como ela tanto gosta.

Neste processo todo às vezes passa uma hora. Agora imaginem isto de noite. Para mim a pior hora de alimentação é a que calha entre as 06h e as 07h da manhã. Depois de um dia cheio de horários, a dormir de noite hora e meia entre amamentação, tenho de fazer um esforço incrível para não adormecer eu sobre a bebé. Puxo à minha mente mil e uma coisas em que pensar para não adormecer, mas é tão difícil. A essa hora estou literalmente a cair de sono e depois ter de me arrastar pelo quarto com ela ao colo para que arrote e eu puder deitá-la faz com que tenha de ir buscar forças lá ao fundo. Já dei por mim a caminhar de olhos fechados.

Infelizmente a Luísa é uma bebé que nem sempre arrota e depois de 10 ou 15 minutos a passeá-la decido deitá-la na alcofa, mas eu é que não estou em paz na cama. Fico sempre a tentar ouvir a respiração dela e a qualquer indício de que possa bolsar e entalar-se. Ah, e já me esquecia dos soluços! É frequente começar a soluçar logo depois de a deitar. Acho que deve ser do ar que fica lá dentro. Volto a pegar nela ao colo, ponho-lhe a chupeta porque a sucção ajuda a passar os soluços e dou mais umas voltinhas pelo quarto. Com tanto que caminho acho que nem vou precisar de fazer preparação quando quiser fazer o Caminho de Santiago.
Já o pai, neste processo todo, abre um olho de três em três horas e por cada cinco vezes que eu me levanto ele levanta-se uma. É o que eu digo, nisto da maternidade, a Natureza podia ter dividido melhor as coisas.

Outra proeza da Luísa também costuma ser fazer cocó depois de mamar, mesmo quando lhe mudei a fralda há 15 minutos. Uma vez que ela tem muitas cólicas fico muito contente com todos os cocós que ela faz e pus que dá (ao que uma pessoa chega ao dizer estas coisas!), mas o meu stock de fraldas e toalhitas é que tem levado um desbaste incrível. Atrevo-me a dizer que os bebés são dos seres mais poluidores que deve existir à face da Terra.  

Sair de casa também tem de ser sempre planeado mediante as três horas de intervalo entre mamadas. Se tenho de sair tenho de ou tirar leite e deixar num biberão ou dar instruções para fazerem uma dose dupla de suplemento. Além de que com o J. já a trabalhar tenho sempre de arranjar uma babysitter para as ausências. Se por um lado há dias em que preciso sair de casa, quando estou fora a minha cabeça está sempre a pensar se a menina está bem, se estará a beber o leite todo, se estará num berreiro sem fim, enfim, adeus sossego.

Como sabem as minhas longas semanas de repouso e internamento e depois os 22 dias de acompanhamento da Luísa no Hospital fizeram com que há muito que não cuide de mim nem da minha casa. Há tanta coisa que queria fazer, mas esta vida contada de três em três horas não dá espaço para muito. O que vale é que a Luísa esta semana faz um mês (Meu Deus, como o tempo passa!) e agora já vou puder deixá-la dormir mais um pouco quando ela não acorda para mamar e talvez o meu dia passe a ser contado de quatro em quatro horas.

Eu sei que às vezes parece que me estou a queixar. Não estou. As coisas que escrevo são apenas o relato dos meus dias e como eu os sinto, da forma mais crua, mais verdadeira que sei. Porque apesar de já não saber o que é dormir e do imenso trabalho que dá cuidar de um bebé,  suportar-lhe as cólicas, não trocava a minha Apressada por nada deste mundo. Ela é a extensão de mim e do pai, ela é o nosso tudo.

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