quinta-feira, 3 de março de 2016

“Ai Credo!”, disse-me ela.



03 de Março 2016



“Ai Credo!”, disse-me ela, com direito a cara horrorizada, quando lhe respondi que tinha tido a Luísa no Hospital São Sebastião, sim, um Hospital público. Respirei fundo, engoli o rol de coisas que estavam prestes a sair e, porque estávamos num acontecimento social de uma pessoa que a ambas é querida, apenas rematei com um seco: “Pois, mas foram eles que salvaram a vida à minha filha”. E fim de conversa que já não havia mais nada a dizer entre nós.



Enerva-me que pessoas sem conhecimento de causa façam juízos de valor de uma realidade que não conheceram. Esta minha colega, grávida pela segunda vez, nunca passou pelo São Sebastião (HSS), então por que raio aquele comentário?! Eu estou-me nas tintas se ela prefere ir para um privado.



Mesmo antes de ter sido internada – e “obrigada” a ser acompanhada no HSS - a minha decisão já estava tomada. Primeiro, porque acredito mesmo na qualidade dos profissionais do serviço público, com destaque para o serviço de Obstetrícia do HSS. Depois porque sou pessoa que se adapta bem a qualquer ambiente e ter duas ou três pessoas a partilhar o quarto é-me indiferente. Uma pessoa vai lá para ter um filho, não vai para um SPA. Além de que fiz lá mães-amigas para a vida. A acrescentar que o HSS fica a menos de cinco minutos da casa da maior parte dos meus familiares e a última razão – e talvez a menos racional, mas o que querem que vos faça? – é que sendo feirense nada me daria mais orgulho do que ter a minha filha na minha cidade. Estas são algumas das minhas razões. Válidas para mim, inválidas para outras.



Por acaso eu ando por aí a fazer cara de escândalo quando ouço alguém a dizer que vai ter bebé num Hospital privado? Eu quero lá saber que seja porque podem pagar 2.000 ou 3.000 euros por tal ou porque querem um quarto privado ou porque preferem uma cesariana ou porque a/o vossa(o) médica ou médico está lá a trabalhar ou porque querem uma enfermeira 24h só para elas e o bebé ou porque têm pavor a Hospital público. Quero lá saber! Desde que se sintam bem com a vossa escolha, fine by me! Amigas como antes.



Agora não me venham com ares de reprovação, quando a palavra público vem agregada a Hospital. Minhas queridas, a vida já me ensinou que nem sempre as coisas mais caras são as melhores.



E não, não trabalho no HSS ou tenho familiares diretos a trabalhar, apenas o defendo porque estou cansada de ouvir comentários sem experiência no terreno.

E querem saber mais? Ainda esta semana li no jornal que o Sistema Nacional de Avaliação da Saúde atribuiu – mais uma vez – o grau de excelência máxima ao serviço de Obstetrícia do HSS.

Mas melhor do que isso é ainda saber que a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do HSS tem das taxas de sucesso com prematuros mais elevadas do país, recebendo bebés desde as 23 semanas. 23 semanas! Sabem o que é isso? Sabem o que é ter um bebé de 500gr e ele sobreviver? Lá fazem-se verdadeiros milagres todos os dias. Ora investiguem lá se os privados recebem prematuros. Posto isto não tenho mais que argumentar.


Quem não ficar convencido terá sempre os privados. Ai Credo!, digo agora eu.


___


P.S. Senhores que gerem a Saúde e afins, volta e meia ouve-se que suas excelências querem fechar a Neonatologia do HSS. Pensem bem. Muito bem. Este Hospital serve mais de seis concelhos e já deu muitos motivos para sorrir a muitos pais. Nem só de dinheiro vive um homem e sendo que em equipa que ganha não se mexe, eu aconselhava a não mexer. Não nos obriguem à mobilização de mais de 300 mil habitantes. Não se metam com as mães e pais de prematuros, que os nossos filhos são guerreiros e nós aprendemos com eles a lutar pela vida.

4 comentários:

  1. Muito bem, Aninha!
    Eu também tive o meu filhote no mesmo hospital e não tenho nada a apontar, pelo contrário! Fomos muito bem atendidos e cuidados!
    Beijinhos para ti e para a Luisinha

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  2. Permite-me partilhar todas as tuas palavras. As minha duas filhas nasceram no Hospital São Sebastião (HSS) e nada tenho a apontar. Pelo contrário.
    Acredito, como referes, que muitos dos que criticam o SNS e os hospitais públicos nem os conhecem e, provavelmente, não sabem que grávidas com complicações são, obrigatoriamente, encaminhadas para o serviço público.
    O HSS tem os seus problemas é certo, mas não podemos pôr todos os serviços "no mesmo saco". Pode haver caos na Urgência e outros serviços, mas a Obstetrícia e a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais são excelentes e as avaliações externas falam por si.
    E mais, muitos dos profissionais que prestam serviço no privado, também trabalham nos hospitais públicos. Conheci vários agora no parto da Baby C.
    E partilho ainda a opinião que, se vamos ter um filho e não para uma unidade hoteleira ou spa, e podemos ter o mesmo serviço mais perto de casa e da família, para quê procurar serviços mais longe. E as amizades nos quartos partilhados podem ter muitas vantagens.
    Mas pronto, são opiniões e opções, cada um sabe de si, mas eu continuo a não ter razão de queixa do serviço público de saúde.

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  3. Olá Ana, sei bem o que é esse tipo de preconceito mas vou mostrar a minha experiência vista do outro lado , do lado do privado :
    Quando na gravidez disse que queria ter o meu bebe no privado , também fui alvo de comentários desagradáveis vindo de pessoas próximas e outras não tão próximas em relação a esse facto , pois nunca ninguém me perguntou qual o motivo da minha escolha , limitaram se a concluir erradamente que eu queria :
    - conforto ;
    - luxo ;
    - cesariana ;
    - queria o tratamento de hotel
    Enfim, um rol de coisas absurdas com as quais não me identifico é que não foram de todos os motivos que me levaram a escolher o privado .
    Os verdadeiros motivos foram , o querer ter controlo sobre o meu parto, saber que iria ter sempre o verdadeiro consentimento informado , queria que lessem o meu plano de parto e o respeitassem e sei que dirão que no público também o fariam e acredito que algumas de vocês tiverem este tipo de parto , mas outras tantas não é eu NÃO queria ficar a mercê da disposição e da sorte que me calhasse no dia do parto .
    Fui muito respeitada, tive o parto natural que sempre quis, considero que o SNS tem muitas vantagens , excelentes profissionais contudo também tenho o direito a refutar as opiniões preconceituosas de quem acha que só se dirige ao privado , mães que querem cesariana e quartos privados .
    Um beijinho
    Ana Teresa

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    1. Olá Ana Teresa,

      Exatamente! Eu acho que a questão está em cada mãe escolher a opção que mais lhe agradar, porque nisto da maternidade não há que inventar muito. Quanto mais seguras e confortáveis com a nossa escolha estivermos, melhor a coisa corre.
      Acho que de parte a parte - público vs privado - tem de haver compreensão e tentar perceber a outra parte sem julgamentos precipitados. Sabes, quando ouvi aquela expressão, e claro que no blog não consigo transmitir o tom de voz usado nem a expressão facial, foi como se do outro lado estivessem a dizer que eu tinha ido ter a minha filha a um "pardieiro" e só eu sei o trabalho que eles fizeram para que a minha Luísa nascesse o mais tarde possível - às 25 semanas ela já queria vir cá para fora - e com o mínimo de sequelas possível devido às infecções urinárias que eu tive e passaram para a placenta. Foi isso que me deixou triste e revoltada com a imagem que as pessoas projectam no SNS.

      Obrigada pelo testemunho :)

      Beijinhos, Ana Luísa

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