quarta-feira, 5 de agosto de 2015

#3 É a vida, Ana! Lapadinhas na cara…



05 de Agosto

Acho que posso dizer que antes de ser mãe era a mulher das teorias em relação a crianças/filhos. Era “nunca hei-de fazer isto”, “nunca hei-de dizer aquilo”, “horror, mas eles fazem isso?”. E depois uma pessoa é mãe e a vida encarrega-se de nos pôr no nosso lugar com umas lapadinhas na cara.  

#1 “Nunca hei-de amamentar à frente de meio mundo. Vou sempre procurar um lugar recatado. Não preciso de expor o meu peito assim.”
Balelas! Basicamente, minhas amigas, perdi a vergonha. Primeiro foi o J. que começou a mostrar a meio mundo fotos minhas a amamentar. Não que se visse grande coisa, mas dizia-lhe sempre para avançar essas fotos quando estava todo babado a mostrar a filha a alguém. Sem resultado. Ele lá via a minha mama ali, só tinha olhos para a filha.
Depois tentar dar de mamar em público em que tentamos tapar a cabeça da criança com uma fralda é uma verdadeira sessão de malabarismos. Tanta coisa para não mostrar um bocado de pele não vale a pena…
No início também me sentia desconfortável em ter os homens da família e visitas por perto na hora de amamentar. Até que um dia pensei: que se lixe, quem não quiser que não olhe.
A partir desse momento já foram estações de serviço, restaurantes, já dei de mamar no carro, enfim, onde tiver que ser e quando a necessidade o obriga, porque continuo a preferir o recato da minha casa para dar de mamar.
Também não pensem que me ponho toda exposta. Tento proteger-me ao máximo, até porque amamentar é e será sempre um ato de partilha entre mãe e filha, uma coisa muito nossa. Mas, pronto, de qualquer forma a vida já me ensinou a não ser complicadinha em relação a dar de mamar e já me vergou nesta minha antiga certeza.
Agora não pensem que a partir deste momento até fazer um topless na praia é um tirinho, porque não é, ok? Pelo menos para mim não J Uma coisa é ter de alimentar um bebé, outra é andar com os marmelinhos ao sol.
Outra coisa que também não gosto é estar a dar de mamar e ter dez pessoas a olharem para mim. De vez enquanto tenho que espantar os “mirones”.

#2 “A Luísa nunca vai dormir na nossa cama. Péssimo hábito.”
Nova lapada da vida. Na verdade quem primeiro quebrou esta regra foi o J. Na fase das cólicas e muitas vezes exausto de a tentar acalmar, o J. pegava na Luísa e deitava-se na cama com ela entalada num dos braços até que a rapariga adormecia.
Mais tarde fui eu a quebrar. Confesso (mas não me batam) que durante a semana depois de lhe dar de mamar por volta das 07h ou 08h, e quando o pai já não ocupa o lado dele, a ponho na cama comigo. Sabe tãoooooo bem. Aqueles olhinhos achinocados a olharem para mim até adormecerem de novo. Às vezes, ficamos a duas ali a conversar, eu com palavras, ela com sons.
De qualquer das formas, quando chegar à fase em que ela sairá da cama dela para se vir infiltrar na nossa vamos ter mais juízo. Prometemos. Cama dos pais não é cama de criança…(ai vida, não me dês mais uma lapada).

#3 “Nunca hei-de trazer a nossa filha para a confusão da Viagem Medieval”
E logo no primeiro dia lá estavam eles com a bebé. Meio mundo tinha ido até à Feira aproveitar que no primeiro dia de VM não se pagava e nós (inocentes que pensamos que por ser primeiro dia ia pouca gente) enfiamos a Apressada no carrinho e toca de ir passear para o meio da multidão. Resultado: pouco depois estávamos a vir embora, porque era IMPOSSÍVEL circular com o carrinho.
Depois disso já fizemos outras incursões à VM, mas a horas de menor movimento.

#4 “Durante a licença vou aproveitar para arrumar as tralhas das mudanças que não consegui arrumar antes de ser internada”
Mãe de primeira viagem não tem mesmo noção para o que vai. Na nossa cabeça os bebés são sempre uns anjinhos sossegadinhos, que dormem e dormem e dormem e nós, quais fadas do lar, temos todo o tempo do mundo para arrumar a casa, tratar das roupas, cozinhar e ainda cuidar de nós.
Pois bem, eu nos primeiros meses mal conseguia tirar o pijama e tomar o pequeno almoço, quanto mais tratar da casa. Nesses meses foi a minha aldeia que veio (e continua a vir) em meu socorro. As cólicas do diabo não me deixavam fazer absolutamente nada.
Agora que as coisas estão mais calmas já começo a ter mais controlo sobre a nossa casa, mas mesmo assim desengane-se quem pensa que uma licença de maternidade é igual a um longo período de férias. MAIOR MENTIRA DO MUNDO! A essas pessoas desafio-as a terem filhos. Ponto.

#5 “Não nos podemos desmazelar”
Ai podemos, podemos. Não sou daquelas mulheres que andam sempre no ponto 28, mas gosto de andar bem…ou sentir-me bem. Quando andava grávida pensava sempre que depois de ter a Luísa iria continuar a arranjar-me e a cuidar de mim, a apresentar-me bem perante a sociedade. Andava armada em Kate Middleton à saída da maternidade. E depois os pés incharam um tamanho acima do que calçava e as pernas também e a bebé chorava e eu não tinha pachorra para estar ao espelho. Apanhar o cabelo com uma mola passou a ser o meu penteado preferido ou o rabo de cavalo e só no sábado passado voltei a maquilhar-me para sair. Seis meses depois da última vez que peguei nas pinturas…
Por isso, depois de ser mãe uma pessoa deixa de ser o centro do nosso mundo e como tal arranjarmo-nos passa a ser uma das últimas preocupações. Mas não pensem que ando aqui de fato de treino e sapatilhas, Deus me livre! Simplesmente aprendi a ter que simplificar, mas com o tempo acredito que há-de voltar o dia em que vou ter tempo para pintar os lábios, pôr rímel e uns pozinhos de manhã.
Depois o corpo também ainda não voltou ao normal e nem sempre apetece ir às compras…


E das minhas certezas nasceram novas realidades e estou certa que muitas outras irão aparecer. A mulher das teorias deu lugar à mãe que tem de se ajustar ao que o dia a dia lhe vai trazendo e aceitando umas lapadinhas na cara. É a vida, Ana!

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