segunda-feira, 8 de junho de 2015

Num lugar muito escuro



08 de Junho

Nos últimos dias passei várias vezes por um lugar muito escuro. Um lugar onde o cansaço, o desespero, a impotência, a inexperiência, a dúvida se juntam todos para abalar qualquer um.
Tinha prometido a mim mesma que enquanto não me sentisse melhor não voltaria a escrever, mas a verdade é que nestes meses todos a escrita foi a minha terapia. Por outro lado, acho que já todos, e um dia também a Luísa quando ler estes posts, estão um pouco fartos de eu só falar em cólicas. Eu própria nunca pensei que este tema pudesse ser de tamanha importância na vida de uma mãe e um pai, sim, porque embora numa dose menor também já vi na cara do J. o mesmo desespero, a mesma exaustão que tantas vezes eu repito ao longo do dia.

Nos últimos dias não sei dizer quantas vezes chorei ao mesmo tempo que a minha filha, quantos quilómetros andei cá em casa enquanto a embalava, quantos bebegel lhe fiz na esperança de a aliviar. E nada. Nada resultou. Ainda nem consegui terminar o livro do doutor Harvey Karp. Se tudo correr bem talvez seja hoje. Sabiam que há culturas onde os bebés não têm cólicas? Pois é, em Bali e numa tribo em África os bebés não têm cólicas. Quase que fiz as malas para um desses destinos, porque estou a precisar que essas mães me ensinem algo. Para além disso, o livro tem-me ensinado muitas coisas sobre recém-nascidos.

Nos momentos de desespero eu só pensava que já estava a exceder a minha conta de problemas, alguém se tinha enganado a fazer a divisão das coisas. Nessas alturas pensava que só queria ter gozado a minha gravidez até ao fim e não gozei, que queria ter abraçado a minha bebé quando ela nasceu e não abracei, que queria tê-la ao meu lado no berço na enfermaria e não tive e que a doença dela nos tinha obrigado a um começo de vida – a dela como filha e a minha como mãe – anormal. Por isto tudo, na minha cabeça eu achava (e acho!) que as cólicas e vê-la a gritar e a contorcer-se com dores não podiam ter lugar nas nossas vidas. Depois de tanta luta para a ter aqui eu só queria ter um bebé feliz e tranquilo, como compensação por todos os meses de sofrimento e angústia.

Mas a vida não é assim, não é feita de equilíbrios nem de acerto de contas para que todos tenham o bom e o mau em doses iguais, por isso não adianta ter estes queixumes.
Até o andar no carrinho/ovo não é 100% eficaz. Depois de um sábado de maravilha em que a rapariga me deixou ir à comunhão da minha afilhada e depois dormiu que nem um anjinho o jantar todo – pelo meio fez um cocó até às costas que nos obrigou a tirar-lhe o vestidinho lindo às bolinhas que ela levava – no domingo voltamos a mete-la no carrinho esperançados que nos desse uma tarde calma. É verdade que o calor também pode não ter ajudado, mas mal conseguimos terminar o café e o passeio no parque passou a ser uma caminhada bem apressada para irmos embora. Ficamos desanimados. Andar de carrinho tinha sido até ao momento o nosso melhor aliado contra as cólicas.

Dizem que as cólicas passam aos três meses. Ainda nos resta mês e meio de cólicas pela frente. É tão duro, saber que dia após dia vamos ter de lidar com isto. Ontem o J., que normalmente a consegue acalmar à noite, desistiu e passou-me a tarefa. Já transpirava e estava mais para lá do que para cá. Eu que já nem sei o que é passar um dia sem dores de costas, braços e pulsos lá peguei na rapariga e às custas de muito embalo e andar para trás e para a frente no corredor a consegui adormecer.

Nestas alturas eu sinto como é fácil uma mãe entrar numa depressão pós parto e acho que nem é preciso ser uma pessoa de “cabeça fraca”, como popularmente se diz. Eu considero-me uma pessoa relativamente forte e há dias em que me sinto no chão, em que me questiono se estaria pronta para ser mãe e sei que estes pensamentos para muitas mães podem ser o empurrão para um lugar ainda mais escuro que aquele em que eu às vezes caio.
Mais uma daquelas coisas que eram bem dispensáveis neste caminho que é a maternidade.

Hoje o dia está a ser bom (mas sempre que digo umas coisa destas a Luísa passado cinco minutos acorda a chorar…). De manhã tivemos a hora do banho, onde só choramingou um bocadito, e depois mamou muito bem. Agora tem estado a dormir. Volta e meia acorda e choraminga, mas nada comparado com os gritos de dor a que já estou acostumada (os meus tímpanos é que não).
Esperemos que o dia continue assim e dessa forma hoje eu tenha direito a estar num lugar com mais luz, menos escuro.




5 comentários:

  1. Não sei se já tentou... peque num tubo de bebegel esvazio-o, corte a parte mais larga de forma a ficar aberto, coloque oléo de amêndoas doces (ou algo parecido) na entrada do anûs da menina para facilitar a entrada da parte fina, introduza e faça movimentos circulares tenha uma fralda de pano preparada, pois irá sair o ar e provavelmente algo mais.
    Eu fiz isso imensas vezes ao meu filho e ajudou bastante, por vezes são os gases que estão a dar cabo deles.
    Experimente em principio resulta e pode fazer as vezes que necessitar a diferença de pressão faz o trabalho sozinha.
    As melhoras.
    Isabel

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    1. Olá Isabel!
      Sim, conheço essa técnica e uso-a muitas vezes na Luísa, mas às vezes nem isso a parece aliviar. Os gases saem, mas ele continua a chorar de dores.

      Beijinhos,
      Ana

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  2. Olá Ana, como eu me identifico com as suas palavras.
    A minha criança (hoje em dia com quase 5 anos) era igual e o meu estado de espírito igual ao seu... E o pior para mim era sentir me incompreendida , porque eu estava feliz , muito feliz , eu tinha realizado o meu sonho de ser mãe , mas aquela não era a realidade que eu estava à espera. E durante muito tempo não disse a verdade sobre como me sentia , tinha receio do julgamento alheio... Mas passou e foi ficando cada vez melhor, muito melhor e é exatamente isso que a Ana vai verificar , que com o passar do tempo só melhora .
    Se permite estas foram algumas das técnicas ou estratégias que melhor funcionaram cá em casa:
    - sling, o meu bebe adorava ( na altura era uma enorme novidade é olhavam me de soslaio) e como só queria colo e os meus braços e costas não aguentavam mais , isto ajudou ;
    - pelo que percebi a Ana ainda amamenta, e eu tomava todos os dias 3x ao dia chá de funcho e chá de cardo Mariano . O chá de funcho ajuda nas cólicas dos bebês e o chá de cardo Mariano supostamente aumenta a produção de leite ( quanto mais exausta , cansada e sob stress estiver, menos produz) . O curioso é que o chá de cardo Mariano é o principal ingrediente do Promil que é um suplemento vitaminico recomendado para mulheres a amamentar . A diferença é que 100g de chá me custavam 3€ numa ervanária e o Promil eram 15€ a caixa .
    - se também tiver a dar suplemento considere a água com que prepara o leite , se for engarrafada não deve ser fervida ( aumenta a concentração de minerais) e deve ser baixa em mineralização ( tem estas informações no rótulo ) eu usava a água Evian e depois usei a Hepar.
    - por fim e não tanto pelo benefício mas sim pela troca de experiências , frequente umas aulas de massagens para bebês ( existem normalmente gratuitas no CS ) , se for do Porto tem essas aulas na Gimnogravida que são aulas super interessantes e que depois incluem aulas de recuperação para a mãe mas que o bebê está connosco .
    Isto recomendo lhe que o faça para que pelo menos uma vez por semana tenha de sair de casa com a sua bebê, para partilhar as suas experiências com outras mães e para sair um pouco dessa rotina , vai fazer lhe bem .
    E Ana , acredite no que lhe disse , isto vai passar é vai ficar cada vez melhor , não se deixe ir para esse sítio escuro e quando sentir que há não tem forças para sair , peça ajuda , mas não se deixe ficar aí , porque o futuro ... Vai ser tão bom !!!

    Um beijinho muito grande para si e para a sua pequena
    As: outra " Ana "

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    1. Olá Ana!
      Obrigada pelas suas palavras. É bom perceber que não sou a única a sentir isto. Pintam-nos a maternidade como algo tão cor de rosa, que quando nos deparamos com cenários como os das cólicas acabamos por duvidar de nós, das nossas capacidades.
      Agradeço-lhe também as dicas. Já tinha lido alguma coisa sobre os slings e felizmente hoje emprestaram-me um. Vamos ver como corre.
      Também vou ver se arranjo os chás de que me falou.

      Beijinhos grandes,
      Ana Luísa

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  3. Olá Ana Luísa ! Vou tomar a liberdade de te dar um conselho em relação às cólicas (no caso de estares a dar biberão à tua menina). Existem uns biberões chamados Dr. Brown´s que são anti-cólicas, ou seja, o bebé não ingere ar e não provoca as terríveis cólicas. Eu utilizei desde o início com a minha menina e não tive esse problema ! Não quer dizer que seja a solução mas é uma ajuda ! Beijinho e força porque tudo isto é uma fase

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