18 de Março
Parecia um filme. De Terror. Eu deitada na cama a percorrer os
corredores do meu piso, a ver as luzes no tecto a passarem uma a seguir à outra
e a sentir as juntas no chão, sempre que atravessávamos uma porta. Avançávamos
a bom ritmo, mas o meu coração batia bem mais depressa. O da Luísa é que não.
Chegamos ao Núcleo de Partos rapidamente e à minha espera tinha três
médicos. “Calma, não desceu para ter o bebé. Vai passar aqui a noite para a
monitorizarmos a noite toda”. Ou seja, ia ficar ligada à máquina dos traçados a
noite TO-DA! Nunca quis tanto estar no quarto com as minhas colegas. A noite ia
ser longa.
Antes, ainda na enfermaria o alerta tinha sido dado durante os
traçados da noite. Nunca me tinha sentido tão impotente. Já não era a primeira
vez que a Luísa me pregava um susto com os batimentos cardíacos e o tema tinha
sido abordado na ecografia de segunda-feira, mas nunca desta maneira.
O coração de um bebé assemelha-se ao galopar de um cavalo numa
corrida. A Luísa já por duas vezes tinha desacelerado essa “corrida”, mas
apenas por dois, três segundos e logo recuperava ao ritmo normal. Isto normalmente
acontecia ao mesmo tempo que tinha uma contração.
Ontem, com a enfermeira ao meu lado prestes a desligar os traçados, os
batimentos cardíacos dela começaram a cair, a cair, a cair, chegando aos
mínimos dos mínimos. A enfermeira abanou-me a barriga, tentou mexer a bebé,
mandou-me mudar de posição e nada. Foi como se estivesse a reanimá-la. Durante
vários segundos os batimentos da Luísa eram quase nulos e quando começou a
recuperar foi tudo muito lentamente.
É horrível sentirmos que alguma coisa está mal e não conseguirmos
fazer nada, a não ser mexermo-nos…e sem resultados. É uma impotência gigante e
o nosso coração pára também naquele momento. Ficamos geladas. A enfermeira foi
clara: “Vai passar a noite ao Núcleo”.
No Núcleo os médicos disseram que o mais certo seria a bebé estar a
agarrar o cordão umbilical. Fui para um quarto e ligaram-me logo à máquina dos
traçados. Ia ficar assim a noite toda, com o coração da Luísa como som
ambiente. Ouvi-la sossegava-me. O problema foi a rapariga voltar a fazer o
mesmo duas vezes durante a noite. Vieram logo duas enfermeiras tentar que ela
se mexe-se e arrebitasse. Eu é que estava prestes a ter um ataque cardíaco!
Foi a segunda noite mais longa da minha vida. Sozinha, naquela quarto
estranho, onde um relógio na parede defronte marcava as horas e ainda para mais
com um daqueles ponteiros dos segundos que fazem barulho. Tortura.
O cansaço era grande, sobretudo por causa das dores de costas devido à
posição em que estava, e ainda consegui ir passando pelas brasas. Sonhei com
coisas terríveis.
Por volta das 07:00 a enfermeira veio dar-me um comprimido e disse-me
que estava tudo mais calmo, mas só depois da mudança de turno dos médicos é que
iria subir ao meu quarto, na enfermaria.
Por sorte o médico da noite veio ao pé de mim antes de se ir embora e
disse-me que estava tudo bem e que me iam levar para cima. Estava tudo bem uma
ova!! Eu sou nova nisto. Ver e ouvir o coração da minha pequena quase parar foi
a pior sensação da minha vida.
Quando subi, juro-vos que nunca fiquei tão contente por ver as minhas
colegas de quarto.
Durante a ronda da manhã, a diretora do serviço veio ver-nos e
explicou-me que a minha bebé já brincava e estava a agarrar o cordão e que isso
estava a provocar a desaceleração do batimento cardíaco.
Nesses casos a solução passa sempre por controlar, monitorizar.
Já paravas com as brincadeiras, Luísa! Chucha o dedo em vez de
apertares o cordão umbilical, sim? Ou matas-me do coração.
Adoro os teus textos... um livro de drama/ação/suspense. Chego a ficar com o coração apertado em certas alturas da tua narrativa. Luísa, ainda nao sabes a MÃE que tens. Nunca duvidei da tua força Ana, mas estás a superar todas as minhas espectativas. Coragem amiga. Falta pouco! <3
ResponderEliminarObrigada minha gorda! Luv U***
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