Há 14 dias que estou fechada nesta casa. Antes disso foram sete dias
de internamento. E, desculpem, mas já estou farta de ouvir frases feitas como
“é tudo pela Luísa” ou “pensa na bebé”. É claro que penso na minha apressada,
mas acham que consigo não pensar noutra coisa?
Agora não me venham com paninhos quentes que nenhuma pessoa é de ferro
e eu fervo em pouca água (embora ande a melhorar o meu lado zen à força).
Luísa tu não sabes, mas a mãe é filha única. Aos filhos únicos
atribuem-se os piores dos defeitos. Que somos extremamente mimados, que não
sabemos partilhar, que somos agarrados aos pais e o diabo a sete. Pois bem, em
defesa da edição limitada que a mãe é tenho a dizer-te que ser filha única fez
de mim uma pessoa independente, que não pede permissão para fazer, faz. Não
tinha irmãos e era a prima mais velha, por isso tinha de me desenrascar. Fez de
mim uma pessoa que lida bem com a solidão ou melhor explicando, arranjo sempre
que fazer quando estou sozinha. O silêncio, o sossego valem ouro. Adoro o avô e
a avó, mas nunca recusei um convite para dormir em casa de uma amiga, ir
passear, estudar fora.
É verdade que sou territorial e se pisam os meus limites chega-me a
mostarda ao nariz, mas quem é que gosta de ver o seu espaço “invadido”?
É por tudo isto que estar aqui fechada me tem custado tanto. Eu odeio
depender de outros, sentir-me amarrada. O verbo odiar é forte, eu sei, mas é a
verdade. Dividindo os meus dias entre a cama e o sofá vejo-me a precisar de
ajuda para o almoço, a ter pessoas a arrumarem-me a casa, outras a irem às
compras, outras que acham que eu preciso de babysitting e até para sair da
banheira preciso de apoio. Toda a gente me ajuda com imenso gosto, a mim é que
cada vez me custa mais. É como se, em parte, tivesse perdido controlo da minha
vida. E eu detesto perder o controlo, filha. É o mesmo sentimento de quando me
disseram que podias nascer a qualquer momento e eu deixei de controlar a minha
gravidez.
Nessas alturas, quando o mau feitio começa a subir-me pelo corpo e
ameaça sair-me pela boca a 100km/h aprendi a respirar fundo algumas vezes e a
viajar com a mente, já que com o corpo não posso. Mas não é fácil. Há dias (na
maioria deles…) que me apetece ter a minha casa só para mim, sem ninguém a
mexer nas minhas coisas (que eu já nem sei em que sítio estão), sem entraves,
sem frases feitas.
Esta clausura, minha pequena apressada, tem sido psicologicamente mais
difícil do que fisicamente. E, correndo tudo bem, será assim durante muitas
semanas. Resta-me ter paciência, muita paciência. Nunca pensei puder
transformar-me numa grávida de risco e a minha nova condição tem dias que não
são fáceis, para não dizer semanas.
Amanhã é dia de consulta. Vai ser a primeira vez que vou sair daqui
depois de ter saído do Hospital. Vai ser a verdadeira “visita de médico”, mas
ao menos vai servir para sentir na pele que tempo faz realmente lá fora e escapar à ditadura do meu repouso.
De filha única para filha única - como te entendo!!!
ResponderEliminarBeijinhos para as duas
Mais uma filha única que se acusa e partilha desse sentimento...mas já sabes que estou sempre a uma mensagem/telefonema/chat de distância mais não seja para ouvir o desabafo a 100km/h que as nossas hormonas falam a mesma linguagem!
ResponderEliminarGosto tanto de te ler:)
ResponderEliminarMaria
Olá Ana :) tenho acompanhado o teu blog, ou melhor, o blog da tua "apressada" e confesso que estou a adorar ler os teus episódios :) adorar ler, sim...só isso :) pois, não deve ser nada fácil, só quem está nelas é que sabe :( também tenho encontrado o teu J. lá nas piscinas e falo um bocadinho com ele :) espero que tenhas muita força...quanto mais tarde conheceres a tua Luísa melhor :) um beijinho grande!!
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