09 de Março
A Luísa ainda não nasceu, mas acho que posso dizer que já me sinto
mãe. Não gosto do termo pré-mamã, porque nesse caso também teríamos pré-filhos
e ninguém usa essa designação ridícula.
E como mãe o primeiro ensinamento que tiro é que a vida passou a ser
uma montanha russa: ora temos tempos de acalmia ora entramos num looping que
nos deixa de cabeça para o ar e o coração na boca.
Ontem foi um dia desses, de entrar no looping e ficar com o coração
apertadinho, do tamanho de uma ervilha.
Era domingo, o dia por excelência das visitas e estava-me a custar
bastante estar aqui de pernas para o ar, vendo o sol lá fora. O dia, como era
habitual, começava com os habituais traçados (que agora detesto fazer). Penei
ali mais de uma hora agarrada à máquina, sempre a debitar registos para médicos
e enfermeiras verem. Estive tanto tempo que o papel dos registos quase dava
para fazer um tapete, como costumamos dizer aqui na gíria das grávidas.
De tarde voltou o mesmo fado. Novo traçado, novamente mais de uma hora
ali a medir as contrações e o batimento e movimentos da Luísa. As visitas iam e
vinham e eu ali, já a escorrer água de tanto tempo que estava agarrada à
máquina.
Finalmente fui libertada do meu suplício. Estava a minha mãe a subir
para me visitar, quando chegou aqui a enfermeira a dizer-me que eu ia lá abaixo
ao Núcleo de Partos fazer uma ecografia, para verificar umas irregularidades
com os traçados. Gelei. Que irregularidades??
Perante o choque o meu corpo desce aos mínimos a preparar-se para dar
os máximos, quando a situação o exigir. Fiquei calada, perdi a fome (o lanche
já tinha chegado) e a minha concentração passou toda para a Luísa e a minha
descida ao terceiro piso.
Liguei à minha mãe para aguardar e não subir até ao meu piso que eu
iria fazer uma ecografia. Avó é mãe ao quadrado e sofre a dobrar. Ficamos as
duas penduradas dos lados opostos da linha, em suspenso, mas sem mostrar
fraqueza uma à outra.
Eu acho que se me visse ao espelho durante o percurso do quarto ao
Núcleo devia ter a cara mais assustada do mundo. Na minha cabeça só pensava o
que poderia estar mal, que eu não sentia.
É claro que chegar ao Núcleo e ver lá a minha médica assistente deu-me
mais segurança. Agradeço imenso à Dr.ª S. pelos cuidados e precauções que tem
comigo e todas as suas parturientes.
Subir à cama para fazer a ecografia é uma ansiedade. Lá estiveram as
médicas a analisar a Luísa a ver se estava bem e ainda lhes consegui perguntar
quanto pesava a rapariga. Já tem cerca de 1,400kg.
Felizmente, tudo estava bem. Nos dois traçados que tinha feito as
médicas tinham verificado umas alterações nos batimentos cardíacos da bebé e
mandaram-me chamar ao Núcleo para tirar todas as dúvidas. Explicaram-me que
aqueles intervalos no batimento da Luísa deveriam ter sido a máquina que por
momentos não lhe captou o coração, deixando aqueles espaços em branco.
Desta vez não posso culpar a Luísa pelo meu susto. Vou assumir que
foram as máquinas.
De qualquer das formas valeu o susto e já percebi que a partir de
agora a vida será assim, uma montanha russa! Benvinda à maternidade, Ana Luísa!
Estavas à espera de uma mar de rosas?
A melhor definição de maternidade que até hoje li é que o nosso coração passa a bater fora de nós, assim que damos à luz. Mas já durante a gravidez - acho mesmo que logo depois daquelas duas riscas no teste - o nosso coração deixa de ser nosso e passa a ser daquele bocadinho de nós que, por mais que nos custe a apre(en)der, não conseguimos proteger de tudo.
ResponderEliminarDepois vais aprender também que basta um segundo, o olhar, o cheiro, o respirar do nosso bebé para fazer com que tudo valha a pena!
Beijos
Ser mãe é isso mesmo gelar quando está calor, suar quando está frio... mas tu és forte depois disto pelo qual estás a passar só demonstras que és forte e aguenta coração(como diz a canção)... beijos
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