06 de Maio
Desde o dia onze de Fevereiro que o Hospital público se tornou na
nossa segunda casa. Entre idas e vindas são já muitos os dias que temos passado
aqui.
Chegamos cá em plena crise das urgências hospitalares por todo o país.
Felizmente o nosso “caso” dava-nos sempre acesso direto ao Núcleo de Partos e
nunca tivemos que enfrentar horas de espera ou atendimentos menos bons.
Está na moda dizer mal dos cuidados de saúde públicos. Umas pessoas
têm razão (muita razão), outras nem por isso.
Numa altura em que cada vez mais casais procuram os hospitais privados
para o nascimento dos filhos, eu posso dizer que não trocava o meu hospital
público por outro. Quando estava grávida algumas pessoas perguntaram-me porque
não ia para o privado e eu respondia que tendo escolhido uma médica que fazia
aqui serviço e conhecendo muitas mães satisfeitas com a equipa não tinha porquê
ter receio. Além disso o meu seguro de saúde não cobria a gravidez.
Infelizmente as histórias más tanto podem acontecer aqui, como no privado.
Hoje posso dizer que foi o trabalho da minha médica e de toda a equipa
de enfermeiras e outras médicas da Obstetrícia que salvaram a minha Luísa.
Aguentamos dez semanas fortes e firmes muito graças aos cuidados de todas elas.
Na minha opinião não é por um serviço ser público que os utentes têm
direito a dizer tudo o que querem. O bom senso é sempre o melhor conselheiro. Frases
como “são os meus impostos que pagam o seu ordenado” são desnecessárias. Só
servem para afastar mais o cuidador de quem precisa do cuidado e, sinceramente,
com os cortes salariais e o assédio aos profissionais de saúde por parte de
outros países já começamos é a ter sorte de haver médicos ou enfermeiros a
quererem trabalhar em Portugal e no serviço público.
Claro que nenhum utente merece ser tratado como uma coisa e acho que
alguns profissionais deveriam aprender a comunicar melhor com os pacientes e a
entender que num Hospital as pessoas estão sempre sensíveis e é necessário que
muitas vezes desçam até nós, se lembrem da nossa angústia e sofrimento. O bom
profissional cria empatia para com o doente.
Outra coisa que me deu felicidade aqui foi ver que há pessoas que realmente
gostam daquilo que fazem, porque quando gostamos do que fazemos ou temos brio
profissional tornamo-nos os melhores. Já sabem a admiração que eu tenho pela
Neonatologia deste Hospital e há lá pessoas que mereciam o ordenado a
triplicar, mas para além da equipa de saúde posso dizer que as auxiliares eram
cinco estrelas. Uma delas uma verdadeira força da Natureza, até fazia vento
quando passava, sempre dinâmica, sempre pronta para atender um pedido.
Infelizmente na Pediatria já encontrei algumas que se arrastam e
quando pedimos alguma coisa parece que nos estão a fazer um grande favor e acreditem
que eu nem sou uma mãe chata (só lhes peço biberões vazios e para trazerem o
suplemento da Luísa), mas enfim não se pode ter tudo. Compensam essas, as
outras auxiliares do serviço que são impecáveis.
Com os dias também vou conhecendo melhor as enfermeiras deste serviço
e há já algumas que me conquistaram. No entanto, continuo a achar que com 43
camas, embora o serviço não esteja cheio, às vezes me parecem poucas
enfermeiras para tantas crianças. No outro dia era vê-las a correr de um lado
para o outro. É que uma mãe de recém-nascido pouco dorme e depois tem tempo
para observar estas coisas.
Depois como Hospital público acho admirável que no berçário da
Pediatria tenhamos ao dispor tudo o que é necessário para se mudar uma fralda a
um bebé ou até mesmo dar-lhe banho. Basicamente, neste momento, a única coisa
que uso do saco da Luísa são as toalhitas, de resto entre fraldas, álcool,
cremes, compressas, luvas, leite de limpeza é tudo fornecido pelo Hospital.
Temos também direito, como acompanhantes de Pediatria, ao almoço e
jantar e ainda mais três pequenos reforços durante o dia. Confesso que
raramente lancho, porque calha a horas de amamentar e depois acabo por me
esquecer de ir à copa, mas para famílias com menos recursos acho muito bom esta
atenção para com quem está com o bebé ou a criança internada.
Também não posso esquecer de uma funcionária administrativa da
Obstetrícia que da primeira vez que eu tive alta e vendo a quantidade de tralha
que tínhamos de levar para o carro e indo eu de cadeira de rodas se prontificou
a ajudar o J. a levar-me até à saída. Ela não tinha de fazer aquilo, não tinha
de abandonar o seu posto de trabalho e ir connosco, não tinha de sair do sexto
piso e descer até ao primeiro, mas fê-lo. No privado talvez o fizesse para
garantir que um dia iriamos voltar, no público eu acho que ela o fez porque
sim, porque vendo-nos atrapalhados não foi capaz de passar e assobiar para o
lado. E acreditem que eu levava mesmo muita tralha!
Já não é novidade nenhuma que estou cansada destas andanças de
Hospital e que já só penso no dia em que a Luísa vai ter alta e então iremos
finalmente para casa, no entanto apesar dos medos, dos sustos, das barreiras
este é o meu Hospital e embora não o queira ver nos próximos tempos – pelo menos
as paredes de dentro, que as de fora vejo da janela de casa – não tenho dúvidas
de que fizemos uma boa opção em o ter escolhido.
Aninha, o meu filhote também nasceu no mesmo hospital. Caí lá de "paraquedas", sem conhecer absolutamente ninguém e, até hoje, recordo o carinho e a atenção das enfermeiras da Obstetrícia! Para uma mãe "de primeira viagem" é algo que NUNCA se esquece!
ResponderEliminarBeijinhos e que rapidamente possa ler aqui que já estais em casa :)
Aninha, o meu Gustavo também nasceu aí...e só tenho uma palavra a dizer...ADOREI... sabes que também foi com muito receio, porque as pessoas quando falam, só falam do que correu mal, nunca falam quando corre bem...mas felizmente comigo correu tudo bem...e contigo também vai correr concerteza...muita força e daqui a nada tens a tua princesa em casa com vocês :) bjinhos aos 3!!
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