19 de Maio
Os meus dias já não têm 24 horas, têm contagens de três em três horas.
Se a Luísa mamar às 15h quer dizer que a seguir vai acordar por volta das 18h e
mais contas de três em três por aí fora.
Nestes primeiros dias, depois da alta, temo-nos esforçado por integrar
plenamente a nossa terceira inquilina na nossa casa, mas a tarefa não tem sido
fácil. Pelo menos para mim. As rotinas agora são bem diferentes e é ela que
manda nesta casa. O que se faz, quando se come, quando se toma banho, quando se
dorme, quando de escreve para o blog
ou os textos ficam a meio, tudo ela determina. Tão pequenina e já tão mandona.
Sai à mãe.
De três em três horas o ritual é o seguinte: bebé acorda; muda-se a
fralda; dá-se de mamar; segue o suplemente de leite; põe-se a menina ao alto
para arrotar e depois adormecer; e finalmente volta à alcofa ou fica ao peito
do pai, como ela tanto gosta.
Neste processo todo às vezes passa uma hora. Agora imaginem isto de
noite. Para mim a pior hora de alimentação é a que calha entre as 06h e as 07h
da manhã. Depois de um dia cheio de horários, a dormir de noite hora e meia
entre amamentação, tenho de fazer um esforço incrível para não adormecer eu
sobre a bebé. Puxo à minha mente mil e uma coisas em que pensar para não
adormecer, mas é tão difícil. A essa hora estou literalmente a cair de sono e
depois ter de me arrastar pelo quarto com ela ao colo para que arrote e eu puder
deitá-la faz com que tenha de ir buscar forças lá ao fundo. Já dei por mim a
caminhar de olhos fechados.
Infelizmente a Luísa é uma bebé que nem sempre arrota e depois de 10
ou 15 minutos a passeá-la decido deitá-la na alcofa, mas eu é que não estou em
paz na cama. Fico sempre a tentar ouvir a respiração dela e a qualquer indício
de que possa bolsar e entalar-se. Ah, e já me esquecia dos soluços! É frequente
começar a soluçar logo depois de a deitar. Acho que deve ser do ar que fica lá
dentro. Volto a pegar nela ao colo, ponho-lhe a chupeta porque a sucção ajuda a
passar os soluços e dou mais umas voltinhas pelo quarto. Com tanto que caminho
acho que nem vou precisar de fazer preparação quando quiser fazer o Caminho de
Santiago.
Já o pai, neste processo todo, abre um olho de três em três horas e
por cada cinco vezes que eu me levanto ele levanta-se uma. É o que eu digo,
nisto da maternidade, a Natureza podia ter dividido melhor as coisas.
Outra proeza da Luísa também costuma ser fazer cocó depois de mamar, mesmo
quando lhe mudei a fralda há 15 minutos. Uma vez que ela tem muitas cólicas
fico muito contente com todos os cocós que ela faz e pus que dá (ao que uma
pessoa chega ao dizer estas coisas!), mas o meu stock de fraldas e toalhitas é
que tem levado um desbaste incrível. Atrevo-me a dizer que os bebés são dos
seres mais poluidores que deve existir à face da Terra.
Sair de casa também tem de ser sempre planeado mediante as três horas
de intervalo entre mamadas. Se tenho de sair tenho de ou tirar leite e deixar
num biberão ou dar instruções para fazerem uma dose dupla de suplemento. Além
de que com o J. já a trabalhar tenho sempre de arranjar uma babysitter para as
ausências. Se por um lado há dias em que preciso sair de casa, quando estou
fora a minha cabeça está sempre a pensar se a menina está bem, se estará a
beber o leite todo, se estará num berreiro sem fim, enfim, adeus sossego.
Como sabem as minhas longas semanas de repouso e internamento e depois
os 22 dias de acompanhamento da Luísa no Hospital fizeram com que há muito que
não cuide de mim nem da minha casa. Há tanta coisa que queria fazer, mas esta
vida contada de três em três horas não dá espaço para muito. O que vale é que a
Luísa esta semana faz um mês (Meu Deus, como o tempo passa!) e agora já vou
puder deixá-la dormir mais um pouco quando ela não acorda para mamar e talvez o
meu dia passe a ser contado de quatro em quatro horas.
Eu sei que às vezes parece que me estou a queixar. Não estou. As
coisas que escrevo são apenas o relato dos meus dias e como eu os sinto, da
forma mais crua, mais verdadeira que sei. Porque apesar de já não saber o que é
dormir e do imenso trabalho que dá cuidar de um bebé, suportar-lhe as cólicas, não trocava a minha
Apressada por nada deste mundo. Ela é a extensão de mim e do pai, ela é o nosso
tudo.
Sem comentários:
Enviar um comentário