05 de Maio
Juro que se um dia destes te apanho na rua, Sr.ª Cólica, desfaço-te em
três.
Mas porque raio têm os bebés de ter cólicas? Será a Natureza já a
prepará-los para o lado amargo da vida e a mostrar às mães que a palavra
desespero nunca mais vai sair do nosso dicionário?
Pode ser impressão minha, mas desde que a Luísa começou a tomar o
leite adaptado a prematuros como suplemento à mama as cólicas parecem ser uma
visita constante. Não sei se será da composição do leite ou de ela devorar o
conteúdo do biberão em 30 segundos e depois não arrotar, mas a verdade é que
tem andado com muitas dores de barriga e fraldas bem recheadas, depois de
largos minutos ou horas a choramingar.
O pior é de noite. Eu tolinha com o sono, exausta porque ela demora
quase uma hora a mamar e depois não adormece com as dores. Contorce-se, grita,
não está bem em nenhuma posição e eu ali a olhar para ela. É um desespero saber
que a única coisa que lhe posso fazer para a aliviar são massagens. Não dá para
transferir as dores dela para mim.
Às vezes penso que a dor já passou, mudo a fralda, ponho-a no berço e
sento-me no cadeirão para descansar, mas logo de seguida tenho de me voltar a
levantar com ela aos gritos novamente. É um exercício de paciência e de ver até
onde vão as minhas forças. Já tive mais.
A Luísa está na Pediatria há seis dias e apesar de saber que aqui não
seria pera doce nunca pensei que fosse assim tão complicado. A primeira noite
passei-a quase sem dormir, mas quando à segunda voltei ao mesmo calvário a
minha resistência foi ao charco. Gostava de ser como aquelas pessoas que lhes
basta dormir duas ou três horas, mas não sou.
Ainda para mais quando se dorme num cadeirão a palavra dormir nem se
adequa ao estado em que ficamos, porque basicamente dormitamos, passamos pelas
brasas. Dormir é quando se desliga a ficha e aqui nunca estamos desligadas.
Durante o dia vou sempre a casa para tomar banho, mas nunca dá muito para
descansar. Não tenho muito leite e como estou de três em três horas a amamentá-la
quase nunca consigo retirar o suficiente, entre mamadas, que dê para a Luísa
fazer uma refeição. Fico-me sempre por meio biberão.
O meu ar de zombie devia ser tal que o J. se ofereceu para vir cá
dormir as duas noites seguintes para eu puder ir a casa descansar durante a
noite e restabelecer-me. E esta semana a avó D. já está escalada para vir
passar uma noite aqui ao Hospital para eu ir novamente a casa dormir.
Parece fraqueza ter de deixar-te para ir dormir, parece egoísmo ou
falta de amor por ti, mas a mãe não aguenta, Luísa. Desculpa, amor, mas na
manhã seguinte estou de volta bem cedo para te dar a mama, que durante a noite
vai ser substituída por biberões alguns com leite materno, outros já com o
suplemento.
É por isso que todos os dias risco no calendário menos um dia que
falta para te levar para casa. Já só penso em estarmos lá os três, no sossego,
na calma e que mesmo que as cólicas apareçam e as más noites persistam nunca
será como este inferno que está a ser a Pediatria para mim.
P.S. Neste preciso momento,
enquanto termino este post, tu berras no berço. Vamos lá a mais uma massagem a
ver se ficas melhor, meu anjo.
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