01 de Outubro
Nós, Portugueses, temos uma espécie de obsessão com
a comida, como se a comida fosse a resposta para tudo. Eu até conheço pessoas
que quando recebem visitas e se estas não enfardam (literalmente) um prato
cheio de comida e se não saem de lá com ares de enfartamento levam a mal.
Então no que toca a bebés o tema comida é
extremamente delicado. Um bebé que não exiba vários refegos e não concorra para
boneco da Michelin é logo alvo de comentários, como: “O leite da mãe deve ser
fraquinho. / Coitadinha(o), não lhe dão comida que chegue./ Toma leite de lata
e não engorda./ Devem fazer-lhe uma sopita leve.” E o diabo a sete.
Eu já vi de tudo. Bebés que comiam bem e eram
magrinhos, bebés que comiam mal e eram roliços.
No que toca à Luísa, e nesta fase em que ela já
come praticamente de tudo, a regra cá por casa é abusar nos legumes, frutas, na
carne e peixe e evitar ao máximo o pão, as bolachas e coisas que possam ter
muito sal ou açúcar escondidos. Está na altura de educar o paladar e confesso
que sobretudo o açúcar é coisa que gostava de manter ao longe o máximo de tempo
possível… Claro que fora de casa pouco controlo a alimentação dela, mas tanto a
minha sogra como a G. cozinham super bem e têm imenso cuidado com as coisas que
lhe dão. Embora tenham mais tendência para lhe dar pão ou bolachas do que eu…
A Luísa não é uma criança gorda, mas também não
acho que tenha cara de quem passa fome.
Ontem, durante as compras, ia o J. a empurrar o carinho
com ela sentadinha e entretida com os seus botões e vinha eu atrás a ler a
lista e a ver o que me faltava, quando ao passar na fila do talho uma senhora
basicamente lhe enfiou um pedaço de pão boca dentro. A minha filha nem a viu
chegar, nem lhe pediu nada. A senhora que estava com (presumo eu!) a filha, na
fila para a carne, comendo cada uma alegremente o seu pão, deve ter achado que
a minha Apressada estava com fome e vai daí toca a enfiar comida goela abaixo à
criança.
O J. até se assustou com o aproximar da senhora,
porque não contava com tal assalto. E eu, cuja vontade foi tirar logo o pão da
boca da criança, confesso que só não o fiz, porque olhei para as duas mulheres
e vi que na cara delas foi como se tivessem cumprido uma missão de vida:
alimentar criancinhas.
Escusado será dizer que dois corredores à frente
lhe tirámos o pão, até porque ela nem estava interessada nele, trincava e
cuspia fora.
Agora a sério. Mas que raio de ideia dá a esta
gente de dar comida a uma criança sem consultarem os pais primeiro? E se a
minha filha fosse celíaca e o pão levasse trigo, por exemplo? Assim como
poderia ser alérgica a qualquer outro alimento que lhe enfiassem goela abaixo.
Eu não conhecia a senhora de lado nenhum. Sei lá de
onde tirou ela o pão ou onde andou com as mãos antes?
Caramba, parem de dar comida às crianças por
desporto e nem me venham com a história de que ficam augadas. Em pequena o meu
pai nunca me deixava comer algodão doce nas festas e eu não morri por isso.
Aliás, visto bem a coisa ele até me poupou a várias “overdoses” de açúcar e eu
sou uma pessoa com grande tendência para a doçura…
Em oposição, na semana passada, uma senhora tinha
feito aquilo que eu considero correto. Primeiro, era uma pessoa conhecida e não
alguém que nos caiu ali de para-quedas, depois dirigiu-se a mim e ao J.
perguntando se queríamos dar um bocado do bolo dela à Luísa. Nós agradecemos e
dissemos que não era preciso, ela não estava com fome e tinha comido a fruta há
pouco. Claro que a Luísa só para nos deixar mal, virou-se para a senhora e só
disse uns 300 dá-dá-dá logo após termos recusado a oferta. Lá tivemos de
arrancar dois pedaços do bolo da senhora e dar-lhe.
Mas foi uma situação controlada, assim como noutros
casos recusamos comida ou porque a Luísa já tinha comido bastante ou por serem
coisas que ainda não come, como por exemplo chocolate.
Queridas e queridos alimentadores de criancinhas
indefesas, se estão a ler este texto, por favor, da próxima vez que qual Miss
Universo vos passar pela cabeça a ideia de erradicar a fome do mundo, começando
pela criança mais próxima, pensem bem, e só por respeito aos pais, perguntem
primeiro se podem, OK?
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