31 de Agosto
Ninguém gosta de se sentir invisível, mas desde que
comecei a andar mais a pé empurrando o carrinho da Luísa pela cidade que isso é
uma constante. E custa-me a crer que um carrinho de bebé atrelado a uma pessoa
sejam invisíveis. Se estivéssemos a falar de algo do tamanho de um ouriço-cacheiro
até entenderia…
A questão é que sempre que paro numa passadeira,
rara é a vez em que algum auto ou motociclista me dê a prioridade, que por lei me
está garantida. Pura e simplesmente não existo, porque toda a pressa do mundo justifica
sempre nunca se parar numa passadeira. Às vezes fico tentada a abanar os braços
no ar ou coisa que o pareça para me tornar notável.
Outra coisa que me irrita também seriamente é que
nunca aguardem que eu atravesse e suba para o passeio oposto. Arrancam sempre
ainda estou eu a chegar ao outro passeio e como alguns passeios embora
desnivelados têm sempre uma pequena diferença para a estrada, obrigam-me a levantar
o carrinho, o que demora o seu tempo - cinco segundos no máximo! -, mas
aparentemente para quem anda na estrada é uma eternidade.
Meus queridos, tanta pressa não vos faz bem à alma.
Abrandem, parem nas passadeiras, esperem que os peões estejam na margem oposta
em segurança e só depois arranquem, ok?
Ah, e outra coisa, numa altura em que se fala tanto
em fazer exercício e no bem estar, que tal estacionarem nos sítios devidos, em
vez de ocuparem os passeios impossibilitando a passagem a peões, carrinhos de
bebés e cadeiras de rodas, e irem a pé ao banco, ao pão ou ao café? Fica a
dica.
Quando isto me acontece e me obrigam a desviar para
a estrada com o carrinho de bebé, só peço que aquela pessoa seja abençoada com
um par de gémeos que é para um dia sentirem na pele a dobrar aquilo que uma mãe
com apenas um bebé num carrinho sente sempre que quer ir passear pela cidade. É
que ninguém gosta que façam de conta que nós não existimos!
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