21 de Janeiro de 2017
Sabes Luísa, este blog nasceu
para ajudar a passar os dias e a partilhar a odisseia que foi o teu nascimento
e meses seguintes. Depois passou a ser uma espécie de relato de episódios
caricatos daquilo que tem sido a minha aventura como mãe e do teu crescimento.
Mas agora, filha, está na hora de acrescentar outra vertente à nossa história.
Está na hora de te começar a passar algumas das coisas em que a mãe, como
mulher, acredita ou se incomoda. Um dia podes nem concordar comigo e pensar de
forma diferente, mas pelo menos quero que tenhas tido todos os ângulos
possíveis da realidade, porque muito foi feito, mas ainda há outro tanto por
fazer… por todas nós.
…
Aqui vai.
A Assunção Cristas não me aquece nem me arrefece,
tirando o facto de que é mulher, lidera um partido político e só tenho pena de
que a política não tenha mais caras femininas. Não interessa se de esquerda, se
de direita, mas mais caras femininas, mais mulheres líderes são precisas em
todas as áreas. Ponto.
Noutro dia a navegar pelas notícias do site da TSF
deparei-me com o programa «Uma questão de ADN», que convida dois membros de uma
família para uma conversa sem tabus, assim se apresenta o programa. A convidada
era a Assunção Cristas e o membro da sua família era a irmã, Aurora.
Por desporto, volta e meia, gosto de ler os
comentários às notícias dos sites. O que eu fui fazer. Deparei-me com o
comentário deixado por um homem, que visivelmente incomodado com a Assunção
Cristas, apenas e só lhe revia como atributo o facto de ser…parideira. Palavra
dele, não minha.
Subiu-me o sangue à cabeça, fervi, mandei o link à
minha amiga Joana numa de tu-deixa-me-desabafar-senão-eu-rogo-pragas-ao-homem e
a coisa acalmou. Mas ficou ali, dia após dia a moer-me. Como é que eu podia ter
lido aquilo e não dizer nada? Não podia.
Eu não conheço o senhor de lado nenhum e não sei
que razões ele possa ter contra a Assunção Cristas, mas reduzi-la ao papel de
parideira enervou-me, porque para mim foi como se ele estivesse a rotular todas
as mulheres que têm filhos como parideiras, como se o nosso único atributo,
única qualidade fosse essa, a de gerar filhos.
Primeiro, meu caro senhor, ser parideira não é um
problema, é uma bênção. E tendo em conta que a líder do CDS já foi parideira
por quatro vezes, imagine-se lá a sorte da senhora. Aliás, saber que esteve
grávida enquanto desempenhou o cargo de Ministra da Agricultura e do Mar só
merece da minha parte uma ovação de pé. E sabe porquê? Porque uma mulher não
deve ser anulada, descartada só porque quer ser mãe durante o desempenho do seu
trabalho ou construção de uma carreira.
Depois, meu caro comentador atrás de um ecrã de
computador, esse tipo de declaração a meu ver só mostra medo da sua parte e
ignorância, pois perante a ausência de qualquer outro argumento que pudesse
atirar à Assunção Cristas decidiu ir pelo mais fácil, subjuga-la ao papel de
apenas e só mãe, anulando o papel de política, advogada, ex-ministra,
ex-professora universitária. Sim, ela foi/é isso tudo. Dá medo uma mulher assim
com tantos cargos, não dá?
Incomoda-o que uma mulher seja líder, seja a número
um. Mas tenho a dizer-lhe que com o tempo essa dor passa. Não se apoquente.
Aliás, até lhe diria melhor: habitue-se!
Pasme-se, mas vivemos em tempos em que as mulheres
podem e devem desafiar os lugares instituídos apenas e só aos homens. Vivemos
em tempos em que nas faculdades o número “delas” já é maior que o “deles” e em
algumas profissões as mulheres já dominam. É o horror, não é? Sugiro-lhe que
fuja para Marte (e leve o Trump) ou
arrisca-se a ver daqui a umas décadas um planeta Terra dominado por parideiras.
Posto isto, e agora para a minha Apressada, sê
forte, sê competente, sê persistente, nunca te rebaixes perante um homem só
porque és mulher, tu tens os mesmos direitos e deveres que ele. E no dia em que
alguém te rotular de parideira responde apenas e só: Com muito gosto!
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