07 de
Dezembro
Uma pessoa passa o dia a olhar para sapatos, a
pensar em sapatos, a calçar sapatos.
Uma pessoa vai às lojas comprar sapatos e anda a
passear-se por lá cheia de tiques a ver se a pele está boa, se os sapatos
descalçam ao caminhar ou se apertam, se os saltos estão direitos, se são feitos
na China ou em Portugal, se têm ares de durar uma época ou a vida inteira.
Uma pessoa perde horas intermináveis a suspirar por
Pradas, Valentinos ou Louis Vuitton na net. Nunca terei dinheiro para os comprar,
mas vê-los ainda não paga imposto.
Chega a hora de se comprar uns sapatos para a filha
e uma pessoa sente-se perdida, não sabe o que comprar, é uma tragédia, parece
que nunca vimos uns sapatos na vida.
Verdade, verdadinha.
Se eu contabilizasse o tempo que já perdi a ler, a
pesquisar, a consultar sites e a ouvir médicas e enfermeiras sobre como comprar
calçado para criança e quais as marcas a comprar os meus caríssimos leitores e
leitoras ficariam admirados.
A verdade é que saber que raramente uma criança
nasce com problemas nos pés e que ao longo da vida pode ficar com malformações,
apenas e só, por culpa dos sapatos que se usa, é coisa que me assusta. Daí que
a escolha do par de sapatos “perfeito” tenha sido e continue a ser uma grande
Odisseia. (Estou em crer que o Ulisses há-de chegar primeiro a Ítaca que eu
encontre o par perfeito…)
Olhem só a lista mental que eu levava, quando fui
comprar há uns meses umas botas para a Luísa: não comprar sapatos grandes
demais com aquela esperança de que durem mais tempo, porque ao não flectirem no
local certo podem magoar ao caminhar; optar por materiais que deixem os pés “respirar”,
dando preferência à pele em vez de sintéticos; serem confortáveis (conforto
primeiro, design depois); ter contraforte rígido e moldado que proporcione uma
boa postura; palmilha ergonómica em pele que molde a planta do pé. Pouca coisa,
não é? Saudades de quando se chegava a uma sapataria e apenas se dizia que se queria
umas botas azuis…
Com todas estas coisas na cabeça comecei em busca
do par perfeito, ou melhor, da marca perfeita. Geox, Chicco, Clarks, Kickers,
Dr Martens, Beppi, Pablosky, Biomecanics da Garvalín, Agatha Ruiz de la Prada, Pikitri,
marcas próprias da La Redoute e Vertbaudet, RAP… you name it.
Vi tanta coisa, consultei tantos sites, que no
final me senti tão perdida e me fui refugiar na Chicco, tentando convencer-me a
mim mesma que uma marca com tanta fama (marketing!!!) não me podia desiludir.
Bem, na verdade é que até acho que fiz uma boa
compra. As botas que comprei à Luísa são bem reforçadas, ajudando a corrigir a tendência
que a Luísa tem em pôr para dentro o tornozelo esquerdo. O modelo é todo feito
em pele e a palmilha, não tendo o aspeto de uma habitual palmilha ergonómica,
tem uns pontos num material diferente que, segundo a enfermeira do Centro de
Saúde, fazem o mesmo efeito que as palmilhas com aquele altinho picotado no
meio. E não foram exageradamente caras...
No entanto, confesso que a marca que mais atenção
me chamou foi uma marca espanhola, que me deu a conhecer a Pediatra: a
Biomecanics. O problema? Dois. O preço e o facto de tanto os sapatos como as
botas parecerem…tratores…
Basicamente a Biomecanics resulta de uns estudos
efetuados por um instituto ou faculdade de Valencia que desenvolveram uma
espécie de reforço na zona do calcanhar e tornozelo, que permitem um melhor
apoio a caminhar. Com tanta borracha naquela zona, não duvido que não haja
tornozelo que saia do sítio, mas que os sapatos não ficam lá muito bonitos, não
ficam. São o verdadeiro conflito entre o conforto e design.
Neste momento estou à espera dos saldos para mandar
vir um par pelo site para testar, já que nas redondezas ainda não descobri
sapataria com esta marca.
O bom desta pesquisa é que descobri que a mesma
fábrica da Biomecanics também produz as marcas Garvalín (uma gama mais em
conta) e a Agatha Ruiz de La Prada (que não sendo barata é mais fácil de
encontrar, porque conheço uma loja aqui perto que vende a marca), ambas com bons níveis de qualidade.
Assim a novela «Sapatos/Botas da Luísa» está para
durar, em busca do par perfeito…desde que não sejam de pau… e cristal só mesmo
os da Cinderela feitos pela Vista Alegre, que estão no Museu do Calçado.
Ui, não deve ser nada fácil, de facto!
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