03 de Setembro 2017
Há quem diga que são os terrible two. Há quem diga
que é só uma criança ativa. O que eu sei é que todos os dias a Luísa me dá uma
coça 20 vezes pior do que ter de ir três horas seguidas ao ginásio (Que não
vou. Não se iludam. Não sou uma fit mom. Sou uma lazy mom, que prefere ficar no
sofá a ver séries ou a ler, durante o pouco tempo que me deixam respirar).
E ir de férias com uma criança com dois anos de
idade, não são bem férias, é mais só sair do sítio onde habitualmente se mora e
mudar os sítios onde habitualmente temos direito a espetáculo, entenda-se:
birras.
Logo na primeira noite fomos jantar fora. Para
melhorar o restaurante só tinha uma cadeira de bebé, que já estava ocupada.
Ficou numa cadeira dos grandes, como já diz. Após comer a sopa começou o
terror. Não parava dois segundos quieta e podem achar que é exagero, mas não é.
Mediante a nossa tentativa para a controlar, começou a fase do espernear e
escapar-se dos nossos braços como se fosse a enguia mais escorregadia do mundo.
Estava tão irrequieta e CHATA que nem nos deixou chegar à sobremesa. Já estávamos
saturados e naquela fase em que já começamos a levar com os olhares dos
restantes comensais a pedirem-nos telepaticamente que fossemos embora.
Olhamos um para o outro e foi quase um “Vamos
embora!” em uníssono. O J. agarrou na Luísa, que ainda teve tempo de furar os
tímpanos a todo o restaurante, e eu fui pagar ao balcão. A senhora até me
perguntou se estava tudo bem. A comida estava, a minha filha é que não, tinha
encarnado o demo naquela noite…
À saída o J. disse: “Se isto continuar assim vamos
embora para casa, que isto não são férias.”
Férias. Longo e saudoso suspiro. Férias tínhamos antes
da Luísa nascer, quando íamos os dois fazer percursos pedestres no Gerês, conseguíamos
ir acampar, ir tomar uma bebida relaxadamente a uma esplanada ou torrar um
bocado ao sol. Há três anos que a minha cor varia entre o branco pérola e o
branco lixívia.
As férias agora são todas cheias de horários. É a
hora de pôr o protetor solar, a hora do lanche da manhã e da tarde, as
trezentas horas de a ir pôr a fazer xixi, a hora da sesta e a da sopa, a hora
em que finalmente a deitamos e em que cada um de nós finalmente tem um bocado
de descanso. Normalmente nessa altura literalmente desmaiamos cada um para seu
lado.
Mas voltando ao episódio do restaurante só para terem
uma noção, acabamos por não desistir das “férias” e passado uma semana quando
voltamos ao mesmo sítio a senhora ainda se lembrava de nós. Levamos com um “Olha
a menina que quase nem deixou os pais comer…”. Lindo Luísa, lindo.
Felizmente esta segunda vez correu melhor. E
perguntam vocês, mas como?? Drogaram a miúda? Levaram-na a dormir? Amarraram-na
a uma cadeira? Não, minhas amigas e amigos, nada disso. Invocamos o santo You
Tube…e abrimos a caixa de Pandora.
Mas será que neste mundo não há um único pecadinho
que um pai ou mãe não possam fazer sem ter de levar com avultadas consequências
depois?!?
Depois do primeiro dia de férias e vendo que o
segundo ia pelo mesmo caminho, fartinhos de tentar todos os malabarismos
possíveis, durante um almoço ligamos o You Tube. Foi como se a paz mundial
tivesse descido à Terra. Durante uma hora pudemos comer calmamente, saborear a
refeição e ainda – pasmem-se almas! – chegar à sobremesa.
O pior foi depois. Em todos os sítios em que parávamos
queria ver o You Tube. Era cafés, restaurantes, em cima de um penedo, a visitar
um castelo, no meio de uma aldeia, na piscina… E foi assim que aquilo que
aparentemente parecia a nossa salvação raptou a nossa filha e a tornou num ser
vidrado num ecrã e que passava o dia todo a pedir “as cores”, que é como ela
chama ao You Tube, porque começou por ver vídeos a ensinar as cores.
“Yellow color, yellow color, where are you? Here I
am, here I am. How do you do?” Conhecem esta música? Eu e o J. também. Temos
pesadelos com ela. Muitos.
E a quantidade de vídeos para crianças a fazer
publicidade aos M&Ms, ovos Kinder ou Chupa-chups? Vídeos com vegetais vi
zero. Mas isso será tema de um próximo post.
A modo que as “férias” (não resisto a estas aspas)
lá foram passando às custas da alienação da Luísa da vida em seu redor e agora
andamos na fase do desmame.
Em casa tem momentos de verdadeira ressaca em que
chora, grita, pede, implora pelas “cores”. Para o corte não ser tão agreste
para já deixamo-la ver uma vez por dia e o restante do tempo inventamos
desculpas, tipo o tablet ou o telemóvel estão sem bateria, “as cores” só dão
depois da sopa, etc.
A minha esperança – e a Luísa já com três anos – é que
as férias do próximo ano sejam menos extenuantes. E estão aí vocês desse lado,
mães e pais com mais experiência, provavelmente a rir-se de mim, mas deixem-me
ser inocente e acreditar que isto vai melhorar, ok?
Bom regresso ao trabalho!
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