13 de Dezembro
Estar deitada na cama, olhar para o lado e em vez do berço ver as
minhas cómodas foi, no mínimo, estranho. É curioso, mas se para a Luísa o
cordão umbilical foi cortado no dia do parto, para mim foi cortado no dia em
que decidimos que a minha Apressada iria passar a dormir no quartinho dela.
Custou-me muito mais a mim esta separação do que a ela.
Durante meses o seu respirar, os seus sonos atribulados, os seus
movimentos estiveram ali, lado a lado. Agora a minha pequenita estava do outro
lado da parede. No quarto dela. Qual moça independente. Se esta mudança já me
custou nem quero imaginar quando daqui a uns anos ela me disser: “Mãe, vou sair
de casa!”. Ai!
Como a Luísa a partir dos quatro meses já dormia as noites todas sem
acordar começamos a falar no assunto cá em casa. Na minha opinião achava que a devíamos
mudar para o quartinho dela aos seis meses e a data ficou mais ou menos
estabelecida.
Chegada a altura a verdade é que a minha vontade de me separar da
minha pequena era pouca, confesso. Então fomos adiando mais um dia, mais outro,
mais outro, arranjando novas desculpas – “ainda faltam as cortinas”; “não
penduraste as prateleiras” - até que decidimos que mais cedo ou mais tarde ela
teria de ir para o seu quarto e quanto mais cedo fosse melhor para ela e…também
para nós.
Assim alguns dias depois de completar os seis meses lá foi ela de
malas de bagagens para o seu quartinho de passarinhos na parede. Não sei se foi
por se sentir mais em liberdade, mas a rapariga nas primeiras noites passava a
vida a descobrir-se, virava-se mais, um forrobodó!
Lá tivemos que lhe vestir mais roupa debaixo do pijama para que não
arrefecesse e fazer mais visitas durante a noite para ver como ela estava.
Mas se pensávamos que ia haver berreiro ou sonos desalinhados, nada
disso. A Apressada habituou-se logo ao quarto dela e nem um bocadinho de
saudades nossas demonstrou ter. Puxando a brasa à minha sardinha, a minha Luísa
sai à mãe, gosta cá do espaço dela e nada de apertos.
No nosso caso foi diferente, pelo menos para mim. Custou-me, e ainda
me custa, não ter o meu pedacinho de gente ali ao meu lado, mas a vida é mesmo
assim e estamos cá para criar uma menina desenrascada e independente e não uma
cachopa sempre debaixo das saias da mãe e a dormir no nosso quarto ou cama até
aos 18!. Por isso, e como dizia um amigo da mãe quando queria dizer que era
preciso avançar: mundo frente! Eu sempre achei muita piada a esta expressão.
Agora o nosso melhor amigo é um intercomunicador da Chicco, que passou
a dormir ao nosso lado (o sortudo!) e que nos vai mostrando imagens da nossa
menina, agora do outro lado da parede.
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