05 de Agosto
Acho que posso dizer que antes de ser mãe era a mulher das teorias em
relação a crianças/filhos. Era “nunca hei-de fazer isto”, “nunca hei-de dizer
aquilo”, “horror, mas eles fazem isso?”. E depois uma pessoa é mãe e a vida
encarrega-se de nos pôr no nosso lugar com umas lapadinhas na cara.
#1 “Nunca hei-de amamentar à
frente de meio mundo. Vou sempre procurar um lugar recatado. Não preciso de
expor o meu peito assim.”
Balelas! Basicamente, minhas amigas, perdi a vergonha. Primeiro foi o
J. que começou a mostrar a meio mundo fotos minhas a amamentar. Não que se
visse grande coisa, mas dizia-lhe sempre para avançar essas fotos quando estava
todo babado a mostrar a filha a alguém. Sem resultado. Ele lá via a minha mama
ali, só tinha olhos para a filha.
Depois tentar dar de mamar em público em que tentamos tapar a cabeça
da criança com uma fralda é uma verdadeira sessão de malabarismos. Tanta coisa
para não mostrar um bocado de pele não vale a pena…
No início também me sentia desconfortável em ter os homens da família e
visitas por perto na hora de amamentar. Até que um dia pensei: que se lixe,
quem não quiser que não olhe.
A partir desse momento já foram estações de serviço, restaurantes, já
dei de mamar no carro, enfim, onde tiver que ser e quando a necessidade o
obriga, porque continuo a preferir o recato da minha casa para dar de mamar.
Também não pensem que me ponho toda exposta. Tento proteger-me ao
máximo, até porque amamentar é e será sempre um ato de partilha entre mãe e
filha, uma coisa muito nossa. Mas, pronto, de qualquer forma a vida já me
ensinou a não ser complicadinha em relação a dar de mamar e já me vergou nesta
minha antiga certeza.
Agora não pensem que a partir deste momento até fazer um topless na
praia é um tirinho, porque não é, ok? Pelo menos para mim não J Uma coisa é ter de
alimentar um bebé, outra é andar com os marmelinhos ao sol.
Outra coisa que também não gosto é estar a dar de mamar e ter dez
pessoas a olharem para mim. De vez enquanto tenho que espantar os “mirones”.
#2 “A Luísa nunca vai dormir na
nossa cama. Péssimo hábito.”
Nova lapada da vida. Na verdade quem primeiro quebrou esta regra foi o
J. Na fase das cólicas e muitas vezes exausto de a tentar acalmar, o J. pegava
na Luísa e deitava-se na cama com ela entalada num dos braços até que a
rapariga adormecia.
Mais tarde fui eu a quebrar. Confesso (mas não me batam) que durante a
semana depois de lhe dar de mamar por volta das 07h ou 08h, e quando o pai já
não ocupa o lado dele, a ponho na cama comigo. Sabe tãoooooo bem. Aqueles
olhinhos achinocados a olharem para mim até adormecerem de novo. Às vezes,
ficamos a duas ali a conversar, eu com palavras, ela com sons.
De qualquer das formas, quando chegar à fase em que ela sairá da cama
dela para se vir infiltrar na nossa vamos ter mais juízo. Prometemos. Cama dos
pais não é cama de criança…(ai vida, não me dês mais uma lapada).
#3 “Nunca hei-de trazer a nossa
filha para a confusão da Viagem Medieval”
E logo no primeiro dia lá estavam eles com a bebé. Meio mundo tinha
ido até à Feira aproveitar que no primeiro dia de VM não se pagava e nós (inocentes
que pensamos que por ser primeiro dia ia pouca gente) enfiamos a Apressada no
carrinho e toca de ir passear para o meio da multidão. Resultado: pouco depois estávamos
a vir embora, porque era IMPOSSÍVEL circular com o carrinho.
Depois disso já fizemos outras incursões à VM, mas a horas de menor
movimento.
#4 “Durante a licença vou
aproveitar para arrumar as tralhas das mudanças que não consegui arrumar antes
de ser internada”
Mãe de primeira viagem não tem mesmo noção para o que vai. Na nossa
cabeça os bebés são sempre uns anjinhos sossegadinhos, que dormem e dormem e
dormem e nós, quais fadas do lar, temos todo o tempo do mundo para arrumar a
casa, tratar das roupas, cozinhar e ainda cuidar de nós.
Pois bem, eu nos primeiros meses mal conseguia tirar o pijama e tomar
o pequeno almoço, quanto mais tratar da casa. Nesses meses foi a minha aldeia
que veio (e continua a vir) em meu socorro. As cólicas do diabo não me deixavam
fazer absolutamente nada.
Agora que as coisas estão mais calmas já começo a ter mais controlo
sobre a nossa casa, mas mesmo assim desengane-se quem pensa que uma licença de
maternidade é igual a um longo período de férias. MAIOR MENTIRA DO MUNDO! A
essas pessoas desafio-as a terem filhos. Ponto.
#5 “Não nos podemos desmazelar”
Ai podemos, podemos. Não sou daquelas mulheres que andam sempre no
ponto 28, mas gosto de andar bem…ou sentir-me bem. Quando andava grávida
pensava sempre que depois de ter a Luísa iria continuar a arranjar-me e a
cuidar de mim, a apresentar-me bem perante a sociedade. Andava armada em Kate
Middleton à saída da maternidade. E depois os pés incharam um tamanho acima do
que calçava e as pernas também e a bebé chorava e eu não tinha pachorra para
estar ao espelho. Apanhar o cabelo com uma mola passou a ser o meu penteado
preferido ou o rabo de cavalo e só no sábado passado voltei a maquilhar-me para
sair. Seis meses depois da última vez que peguei nas pinturas…
Por isso, depois de ser mãe uma pessoa deixa de ser o centro do nosso
mundo e como tal arranjarmo-nos passa a ser uma das últimas preocupações. Mas
não pensem que ando aqui de fato de treino e sapatilhas, Deus me livre! Simplesmente
aprendi a ter que simplificar, mas com o tempo acredito que há-de voltar o dia
em que vou ter tempo para pintar os lábios, pôr rímel e uns pozinhos de manhã.
Depois o corpo também ainda não voltou ao normal e nem sempre apetece
ir às compras…
E das minhas certezas nasceram novas realidades e estou certa que
muitas outras irão aparecer. A mulher das teorias deu lugar à mãe que tem de se
ajustar ao que o dia a dia lhe vai trazendo e aceitando umas lapadinhas na
cara. É a vida, Ana!
Sem comentários:
Enviar um comentário