Sempre adorei a escola. Sempre gostei de aprender coisas novas a cada
folhear de página dos manuais. O giz que sujava as mãos, o leite escolar que
nunca bebia por vergonha. Ser chefe de turma, quando me portava bem. O almoço
na cantina, a custo, mas que comia rápido para ter mais tempo para brincar. Os
amigos.
Mal tocava a campainha íamos todos em correria para o recreio brincar.
Ainda hoje tenho amigos desses tempos. Brincávamos às caçadinhas e às
escondidas, ao elástico e à macaca e quando os rapazes estavam de bom humor até
nos deixavam dar uns chutos na bola. O meu “My First Sony” vermelho, azul e
amarelo era uma presença frequente na escola, com cassetes dos Onda Choc para
ensaiarmos danças.
Na minha turma havia vários grupos de amigos, mais ou menos afinidades,
mas não me lembro de alguém andar só. Os anos também já vão distantes e as
memórias da infância tendem a ser pintadas de cor de rosa. Mas sinceramente não
me lembro de meninos a deambular sós pelo recreio.
Mas hoje em dia parece que ser criança é mais difícil que no meu
tempo.
Ainda se ensina que somos todos diferentes e todos iguais, fala-se
muito no bullying e muito nos afetos, mas o menino que é novo na escola, a
menina que tem uma caraterística diferente ainda andam sós na hora do recreio.
Há grupos de amigos que não aceitam receber um membro novo ou se o aceitam é
para que esse membro seja uma espécie de súbdito dos outros. Ouvem-se insultos
entre crianças e não são raras as vezes em que se batem.
Eu ouço estas histórias e o meu coração de mãe fica pequenino, mirrado,
a imaginar uma criança sozinha num recreio, a pedinchar alguém que queira
brincar com ela e num universo de dezenas de meninos e meninas não haver
ninguém (ou haver muito poucos) que o recebam com um sorriso e incluam nas
brincadeiras um novo amigo. Um recreio deve ser o expoente máximo da felicidade
de uma escola!
Então a minha questão é: onde é que nós, pais e restante comunidade escolar,
estamos a falhar? É uma questão que me assola e não consegui ainda chegar a uma
conclusão. Se desde o berçário e jardim de infância são feitas atividades ou
trabalhos sobre a empatia e os afetos, para onde vai toda essa “pedagogia”
depois? Somos nós, pais, que não falamos o suficiente com os nossos filhos, que
achamos que aos nossos isso nunca acontece? Quer os nossos filhos sejam o que
anda sozinho a vaguear pelo recreio ou o que nega amizade a outro menino.
Será a crueldade uma coisa inata, vinda da sobrevivência das espécies,
e que apesar de tanto discurso sobre a empatia cai em saco roto na hora de
estabelecer hierarquias de recreio? Será que a nossa humanidade nos tornou mais
egoístas, incapazes de ver o outro, fechadinhos na nossa concha?
Se alguém se quiser associar a esta minha reflexão sintam-se livres
para ajudar a entender o problema e procurar soluções. Porque não há coisa mais
triste que um recreio de solidão.