14 de Abril
Eu não sei explicar isto, mas
quem ao longo da vida tem tido a oportunidade de ver várias gerações de
crianças crescerem sabe que a cada geração que passa a evolução acontece. Os
meus primos mais novos, com pouco mais de quatro anos já tinham mais destreza
que eu com a mesma idade (lembro-me do João pequenino, apanhar o carro da minha
madrinha com porta aberta, sentar-se e ligar o carro!) e a Luísa com quatro
anos já me fez questões (“O que é a morte?” ou “Qual foi a primeira pessoa a
nascer antes de haver mães”?) que eu acho que só pensei nelas já na escola
primária.
Hoje em dia não é estranho
colocar um tablet na mão de uma criança pequena para perceber que ela
rapidamente consegue descobrir a lógica do ecrã táctil e começar a associar
símbolos sem saber ler. É óbvio que essa rapidez tem a ver com o facto de nos
verem “agarrados” aos telemóveis e a mexer neles com os dedos. Evoluímos, mas
também nem tanto, a imitação continua a ser, a meu ver, a base da aprendizagem
nestes primeiros anos.
A realidade do teletrabalho cá
por casa faz de nós presentes, embora ausentes. Estamos dois adultos sentados
ao computador em nossa casa, mas durante muitas horas não podemos dar a atenção
necessária que uma criança pequena exige. Num desses dias, o Jorge teve uma
ideia “brilhante” (sim, com aspas): “Luísa queres jogar no computador?”. Eu só
lhe disse que ele tinha acabado de abrir a caixa de Pandora e que não sabia
onde se havia metido.
Lá lhe mostrou o rato, o teclado,
arranjou-lhe uns jogos rudimentares, mas como todos sabemos os miúdos
rapidamente interiorizam isto das tecnologias e passam a querer viver para
jogar. Agora é vê-la todos os dias mal acorda chatear o pai, mesmo melga, até
ele se comprometer em que hora do dia é que ela vai puder jogar PC. Se antes cá
em casa se ouvia mais “Mãe, mãe, mãe!”, agora é “Pai, já posso jogar?”, mas de
cinco em cinco minutos. Eu avisei-o.
Eu pessoalmente só pensava
introduzir o computador na vida da Luísa mais tarde. Aos quatro anos nenhuma
criança precisa de jogar computador. Chamem-me velha, chamem-me retrógrada, mas
é verdade.
Sabem que tecnologia uma criança
com quatro anos precisa de dominar? A pega do lápis, meus queridos, tão simples
quanto isso. Saber pegar corretamente num lápis é essencial, é básico. É nisso
que nos devemos concentrar, em vez de querer que eles saibam identificar o
símbolo do Youtube ou dos jogos e fiquem anestesiados horas.
A pega do lápis de forma correta
vai ajudá-los a melhor começar a fazer grafismos, para depois fazerem letras e
aprenderem a juntá-las em palavras. Há uns tempos em conversa com uma
professora primária ela me confessava isso, que ainda há crianças a chegar à escola
sem conseguir pegar bem num lápis. Imagino que isto seja um bloqueio logo nos
primeiros tempos de primária e para uma coisa que nos leva a algo essencial da
nossa vida: a escrita.
Eu não sou professora (decerto
algumas que conheço podem deixar aqui os seus conhecimentos e experiências),
mas do meu humilde bom senso, acho que a escrita desenvolve raciocínio,
concentração, comunicação. Ui, podia estar aqui horas a falar das mais-valias
da escrita. Quem nunca se arrepiou a ver erros ortográficos ou de sintaxe nas
redes sociais? Tudo isso começa na escrita e os seus primórdios são…a pega do
lápis. Pasmem-se.
Carregar em teclas qualquer um
faz. Não menosprezando, a minha avó Alice hoje com 86 anos e a quarta classe
aprendeu a teclar e uma vez mandou um mail à minha mãe! É um feito digno de
louvor na verdade, mas se calhar se tiver de fazer uma redação já se via à
rasca.
Pegar num lápis é difícil, demora
tempo, exige muito treino e paciência. É por isso tão importante todos os
desenhos que eles fazem no infantário/pré-escola/creche/casa. É por isso tão
importante que todos nós, pais, levemos meia dúzia de lápis e papel sempre que
formos a um restaurante, por exemplo. A criança poderá estar apenas dez minutos
a pintar e logo a seguir perder o interesse, mas serão sempre uns dez minutos
preciosos.
Às vezes sinto que os tablets, os
computadores são uma porta à facilidade. A tecnologia tem imensa coisa boa, já
não podemos viver sem ela obviamente e irá acompanhar a vida dos nossos filhos.
Mas há coisas básicas que embora pareçam pré-históricas não podemos descuidar, como a "tecnologia" do lápis.
Cá por casa vamos continuar na
luta entre meia hora de jogos de computador por dia, até porque agora já não dá
para fazer reset na memória da miúda, e continuar a colecionar e incentivar os
desenhos da quarentena para que um dia a Luísa saiba escrever tão bem, como
usar um computador.