sábado, 1 de setembro de 2018

Parques infantis: O terror e o paraíso



A minha filha adora parques infantis. Eu detesto. Para ser sincera, odeio mesmo. E acho que agora entendo porque é que os meus pais nunca me levavam a parques infantis. Espertos.
Os parques infantis são território onde impera a selvajaria em detrimento da diversão ou pelo menos este é o meu ponto de vista, claro. Se perguntarem à Luísa ela dirá que adora e que é o lugar onde sobe e desce um escorrega 500 vezes numa hora e anda de baloiço.

Por norma, vem sempre de lá por arrasto e a chorar, porque nunca o tempo que lá está é suficiente. Podemos ir 15 minutos, 30 minutos ou três horas que o final é sempre o mesmo: Luísa a ser trazida ao colo, retirada à força do escorrega, a chorar baba e ranho, depois de termos estado “pacientemente” nos últimos 10 minutos a dizer “Luísa, vamos embora. É a última vez que escorregas, ok?”

Do ponto de vista das crianças acredito que realmente elas gostem daqueles espaços, quer sejam os parques de exterior como aqueles que existem nos shoppings. Hoje em dia quase todos vivemos em apartamentos com pouco espaço pelo que estas áreas com labirintos, escorregas, baloiços ou outras estruturas façam as delícias da pequenada.

Mas eu enquanto mãe e pessoa – e sublinho o “pessoa” – tenho muitas vezes dificuldade em lidar com estes sítios, aliás acho que são um bom terreno para sermos avaliados enquanto pais e cidadãos. Quando o “caudal” de crianças nesses sítios não é muito grande, dá sempre para tirarmos durante cinco segundos os olhos da nossa cria e ver o ambiente à volta. Ou então, quando estão a abarrotar pelas costuras eu diria que seriam uma delícia para qualquer psicólogo fazer um estudo… aos pais, sobretudo. Pérolas, meus senhores, muitas pérolas.

Na semana passada, num dos dias em que choveu, tive a ideia (parva) de me enfiar num shopping com a Luísa e daqueles com um desses espaços infantis, que a Luísa adora. Foi só o tempo de sair no elevador e a cachopa já me estava a sarnar a paciência com o “Vamos, mãe! Vamos.” Fui fraca e cedi. Era o Armagedão naquele espaço. Digo-vos o fim do mundo não deve ser muito pior que aquilo.

Eu diria que estariam perto de 100 crianças extremamente agitadas no espaço e das mais variadas idades. A Luísa a sentar-se no chão e já a tirar as sapatilhas e eu já a “ler” no espaço os 5.000 perigos que nos passam na cabeça. Não a podia perder de vista dois segundos, estavam imensos miúdos e outros tantos adultos à volta.

Começa então o circo.
Luísa escolhe o escorrega, sobe e desde umas quantas vezes. Já não precisa de ajuda a subir nem a descer, mas eu mantenho-me sempre por perto, porque se há coisa que as hormonas pós gravidez me deram (e mantenho) é aquela sensação de leoa a proteger a cria. Dez metros afastada de mim e sou capaz de fazer partidas em corrida capazes de envergonhar muitos atletas dos 100 metros, se a sentir em risco. Não se riam que é verdade, juro!
Ora vai a Luísa a descer e deparo-me com uma avó a ajudar o neto a subir o escorrega por onde TODAS as outras crianças estavam a descer. “Anda fofinho, sobe!” Comecei a ferver e fiz-lhe aquele olhar de ou-pões-o-fofinho-a-subir-pelas-escadas-e-a-descer-na-vez-dele-ou-vamos-ter-problemas! A ela assustei-a, não se abeirou mais do escorrega, mas ao “fofinho” claro que não, então se a avó tinha dito que era ali que se subia, porque iria ele para a fila? As crianças são o nosso espelho em muitas coisas, somos nós, adultos, que lhes passamos muitas coisas…sobretudo cidadania, respeito pelo espaço comum, you name it.

Seguiu-se o espaço da piscina de bolas, que segundo me parece penso que será até aos cinco anos. Estava lá a Luísa e mais duas ou três crianças a brincar e vejo a entrarem duas crianças com pelo menos 7/8 anos lá dentro, que quase já nem conseguiam estar em pé direitas de grandes que já eram para aquela área e começam a correr às voltas, levando os mais pequenos todos à frente. Ouço esta pérola da mãe ao meu lado: “Olha enfiei-os para ali!” E começa a rir-se. Pois, não eram os filhos dela que estavam a ser atropelados e calcados, que interessava se aquele espaço já não era para a idade/fisionomia deles? Achei esta atitude uma plena falta de sensatez, respeito e mesmo desleixo.
Lá fui eu retirar a Luísa de lá, que já estava a choramingar de ter sido abalroada e dizer àquela mãe que aquelas crianças eram grandes demais para aquele espaço. Se as tirou de lá? Nem se deu ao trabalho.

A última paragem foi a área dos ecrãs interactivos, normalmente local dos meninos e meninas que não gostam tanto do “Texas” em que se transformam os outros divertimentos. Nesse sítio a minha dificuldade é fazer entender à Luísa que se estiverem ocupados tem de esperar pela vez dela (como sabem é apressada desde a barriga) e depois quando já está a pintar há algum tempo fazê-la entender que tem de dar a vez aos de trás. Por norma, este é o espaço mais fácil de gerir, ainda assim e tendo em conta que a Luísa passa 80% do tempo na parte do “Texas”, estes ecrãs interactivos sabem-me a spa J

Não sei se esta minha visão dos parques infantis será partilhada por muitos pais e atenção que eu não sou contra eles, apenas gostaria de ver toda a gente a usá-los de uma forma civilizada. Parecendo que não, mas a partilha destes lugares, o saber esperar pela sua vez, o uso correto dos seus equipamentos poderão ser as bases para futuros cidadãos mais conscientes dos direitos e deveres de quem usa espaços públicos.

Eu, por cá, vou continuar a odiar estes espaços, mas a ter de os frequentar com a Luísa durante muuuuuuuitos anos.