domingo, 24 de julho de 2016

Vou vender o sofá



21 de Julho

Ser mãe é ter uma espécie de lista mental, onde vamos fazendo “check” sempre que o nosso rebento vai ultrapassando mais uma etapa. Já sabe bater palminhas. Check. Já sabe apontar onde é o nariz. Check. Já sabe dizer cão. Check. E de mês para mês, guiadas pelo que lemos nos livros ou na net, o que nos dizem os familiares ou os Pediatras esperamos ansiosamente que esse novo “check” venha enriquecer a nossa lista.

Mas, e quando há um item da lista que demora em aparecer?
No caso da Luísa confesso que já andava a ficar um bocado ansiosa com o caminhar. A rapariga era capaz de gatinhar de casa ao Porto, de se levantar agarradinha aos móveis e estar em pé a abanar-se ao som das músicas do Panda, mas dar uns passos estava difícil.

Tentavamos dar-lhe segurança e confiança para andar, incentivando-a, mas sem exigir até à exaustão e ela nada de nos fazer a vontade. Sempre que sentia que a estávamos a tentar pôr a andar atirava-se para o chão e virava-nos as costas a gatinhar como quem diz: “Estou mesmo para vos aturar”.
Enquanto isso começavam as conversas de que “X já caminhava desde os nove meses” ou que “Y já dava muitas passadas sozinho” e a Luísa que tinha sido Apressada para tudo não queria continuar na mesma linha e sê-lo também para caminhar.

Foi aí que me lembrei de uma coisa que a médica da Neonatologia uma vez me tinha dito, que a mente dos bebés é muito maleável e que não atingindo uma etapa de uma forma haveria outras maneiras de os fazer lá chegar. Bingo! Eu sei que isto dito assim até parece que a rapariga já tinha feito dois anos e ainda não caminhava, mas é que eu sentia que só lhe faltava mesmo um pequeno incentivo para a fazer andar…só não sabia qual.

Comecei então a reparar que ela passava mais tempo em pé quando eu lhe vestia vestidos ou calções. Pois claro, que agora não usa meias calças e andar no chão de joelhos não é coisa muito agradável. E, pronto, foi remédio santo!

Com os joelhos à mostra, escapar a gatinhar já não era tão apelativo, e lá começou a aventurar-se mais nos passinhos. Em pouco tempo começou a ganhar confiança e a caminhar. Posso inclusive dizer que julgo que a Luísa deve ter um arranque mais potente que qualquer Ferrari, pois já me vi obrigada a desatar num sprint para a apanhar. Talvez a cachopa venha a ter futuro nos 100 metros.

Já sabe andar. Check. E eu voltei a aprender a correr. Gostava de saber como é que perninhas tão pequenas e roliças podem chegar a 100km/h em 10 segundos ou talvez ela domine o poder do teletransporte porque num segundo está ao pé de mim e no seguinte já deu a volta à sala e me desapareceu de vista.

Tomar café numa esplanada ou estar à espera da nossa vez no médico passou a ser tarefa onde se gasta muitas calorias. Nem chego a aquecer os lugares. E carrinho já só o quer obrigada – e amarrada! -, porque há todo um mundo novo para descobrir a pé e a curiosidade é algo que lhe está no sangue.
Dito isto estou a pensar talvez vende o sofá.