21 de Julho
Ser mãe é ter uma espécie de lista mental, onde vamos fazendo “check” sempre que o nosso rebento vai
ultrapassando mais uma etapa. Já sabe bater palminhas. Check. Já sabe apontar onde é o nariz. Check. Já sabe dizer cão. Check.
E de mês para mês, guiadas pelo que lemos nos livros ou na net, o que nos dizem
os familiares ou os Pediatras esperamos ansiosamente que esse novo “check” venha enriquecer a nossa lista.
Mas, e quando há um item da lista que demora em aparecer?
No caso da Luísa confesso que já andava a ficar um bocado ansiosa com
o caminhar. A rapariga era capaz de gatinhar de casa ao Porto, de se levantar
agarradinha aos móveis e estar em pé a abanar-se ao som das músicas do Panda,
mas dar uns passos estava difícil.
Tentavamos dar-lhe segurança e confiança para andar, incentivando-a,
mas sem exigir até à exaustão e ela nada de nos fazer a vontade. Sempre que
sentia que a estávamos a tentar pôr a andar atirava-se para o chão e virava-nos
as costas a gatinhar como quem diz: “Estou mesmo para vos aturar”.
Enquanto isso começavam as conversas de que “X já caminhava desde os
nove meses” ou que “Y já dava muitas passadas sozinho” e a Luísa que tinha sido
Apressada para tudo não queria continuar na mesma linha e sê-lo também para
caminhar.
Foi aí que me lembrei de uma coisa que a médica da Neonatologia uma
vez me tinha dito, que a mente dos bebés é muito maleável e que não atingindo
uma etapa de uma forma haveria outras maneiras de os fazer lá chegar. Bingo! Eu
sei que isto dito assim até parece que a rapariga já tinha feito dois anos e
ainda não caminhava, mas é que eu sentia que só lhe faltava mesmo um pequeno
incentivo para a fazer andar…só não sabia qual.
Comecei então a reparar que ela passava mais tempo em pé quando eu lhe
vestia vestidos ou calções. Pois claro, que agora não usa meias calças e andar
no chão de joelhos não é coisa muito agradável. E, pronto, foi remédio santo!
Com os joelhos à mostra, escapar a gatinhar já não era tão apelativo,
e lá começou a aventurar-se mais nos passinhos. Em pouco tempo começou a ganhar
confiança e a caminhar. Posso inclusive dizer que julgo que a Luísa deve ter um
arranque mais potente que qualquer Ferrari, pois já me vi obrigada a desatar
num sprint para a apanhar. Talvez a
cachopa venha a ter futuro nos 100 metros.
Já sabe andar. Check. E eu
voltei a aprender a correr. Gostava de saber como é que perninhas tão pequenas
e roliças podem chegar a 100km/h em 10 segundos ou talvez ela domine o poder do
teletransporte porque num segundo está ao pé de mim e no seguinte já deu a
volta à sala e me desapareceu de vista.
Tomar café numa esplanada ou estar à espera da nossa vez no médico
passou a ser tarefa onde se gasta muitas calorias. Nem chego a aquecer os
lugares. E carrinho já só o quer obrigada – e amarrada! -, porque há todo um
mundo novo para descobrir a pé e a curiosidade é algo que lhe está no sangue.
Dito isto estou a pensar talvez vende o sofá.